Rosângela Maria, de 27 anos, moradora do povoado Alto do Boi, no Litoral Norte, há dois meses mantém a rotina de acordar cedinho e sair de casa às 6h50 da manhã, enfrentando, muitas vezes, uma caminhada de 2 km, quando não consegue uma carona com vizinhos ou no ônibus da escola. O percurso dura em torno de 40 minutos ao longo da AL-101 Norte.
A saga diária de Rosângela é a mesma de muitas jovens da comunidade contemplada pelo projeto ‘Mulheres Mãos à Obra’, oferecido na Associação dos Moradores de Ipioca, que abriga o projeto de inclusão digital do Governo de Alagoas, tocado pelo Instituto de Tecnologia em Informática e Informação (Itec) e coordenado pela Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (Secti).
Mais de 800 jovens e adolescentes já foram qualificados pelos cursos e capacitações realizados no local, numa ação de cidadania mantida pelo Governo do Estado, dentro da proposta de construção de uma nova Alagoas.
O curso de informática, voltado ao público feminino, foi iniciado em julho passado e funciona em dois turnos, manhã e tarde, com uma turma diferente em cada horário. Contempla algo em torno de 60 mulheres, de diferentes idades, da região de Ipioca e entornos.
No conteúdo programático, noções do Pacote Office (Word, Excel, Power Point), Photoshop e navegação na Internet, além do conhecimento do computador em si, dos periféricos e de como ligar e desligar a máquina. Trata-se de informática básica, alfabetização digital.
“Gostei muito do curso; ele traz oportunidades para pessoas que nunca pegaram em computador. Muitas meninas aqui, que nunca mexeram em um computador, hoje em dia estão aprendendo a ligar, fazer slides e muitas outras coisas. Na associação, eu fiz o curso de camareira, que também foi um projeto do Governo, e tenho o certificado até hoje”, disse Cristiane Lima, artesã da região, que tem dois filhos e produz roupas de praia utilizando crochê.
De acordo com Jasiel Pontes, presidente da Associação dos Moradores de Ipioca e coordenador do Projeto de Inclusão Digital, o fato de oferecer cursos voltados à Tecnologia da Informação para as mulheres da região vai além, inclusive, do papel de qualificar. É, também, uma maneira de fomentar mudança no comportamento e pensamento da população, sobre o papel da mulher naquelas comunidades.
“Hoje, são mais de 60 mulheres qualificadas na área de Informática Básica, preparadas para o mercado de trabalho. A maioria é dona de casa, cuida do lar, e a gente tá tentando quebrar esse paradigma”, explicou o coordenador.
A inclusão digital do Estado e os computadores que lhe dão corpo hoje servem como uma espécie de 'pista de pouso', onde diversas instituições realizam cursos para os moradores da região, após concretizarem parceria com a Associação. O projeto ‘Mulheres Mãos à Obra’, por exemplo, é realizado por instituições como Banco Cidadão, mas que encontram no aparato de inclusão digital sediado na Associação um porto seguro para empregarem qualificações para a comunidade.
“Estamos atuando aqui em Ipioca como Associação desde 2008 e, como inclusão digital, desde 2010. Já qualificamos mais de 800 jovens, por meio de projetos do Governo do Estado. Isso tem melhorado por demais a qualidade de vida aqui. Tem jovem hoje em Ipioca com mais de 4 cursos no currículo, e isso aumenta o poder de competitividade dele no mercado de trabalho” completou Jasiel, presidente da Associação.
A carência de iniciativas para as mulheres é uma das principais razões pelas quais agora a região está recebendo inúmeras ações, não só digitais, mas em várias outras áreas. Isso é confirmado por uma das moradoras e alunas do curso de Informática Básica. Professora de educação infantil, Jeane Lins reforça a importância das atividades que acontecem na Associação.
“Esse projeto 'Mulheres Mãos à Obra' me foi apresentado como uma pesquisa, elaborada na AL-101 Norte, de Jacarecica até Sauaçuhy, por um dos órgãos que organiza o curso. Ficou então constatada a defasagem da atuação da mulher da região no mercado de trabalho e, visando esse vazio, foi trazido para o nosso bairro não só o curso de informática, mas o de auxiliar de cozinha, eletricista, entre outros, para que nós possamos ter mais oportunidade ao concorrermos, digamos assim, a uma vaga de trabalho”, informou a aluna Jeane Lins.
De acordo com o coordenador do Programa de Inclusão Digital, Robson Paffer, a iniciativa vem cumprindo o seu papel, que é o de auxiliar a comunidade do bairro em melhorar a sua qualidade de vida por intermédio da capacitação.
“Este projeto de Ipioca tem uma peculiaridade. Quando o implantamos, o presidente da Associação, Jasiel Pontes, falou que estávamos levando uma grande oportunidade para aquela região, que era esquecida pelo poder público, e os frutos vieram logo em seguida com alguns jovens conseguindo emprego nos hotéis da região, após fazerem cursos no Projeto de Inclusão Digital. Então, acredito que vem cumprindo o papel e que auxilie ainda mais aquelas comunidades”, declarou Robson Paffer.
Para os moradores de Ipioca que desejem se associar e participar das ações, existe um cadastro específico para cada atividade. É só se encaminhar à Associação e levar o original do RG, CPF, comprovante de residência e telefone pra contato. Já para os cursos de qualificação profissional é necessário levar os mesmos documentos mais a declaração escolar. Se já concluiu os estudos, apresentar cópia do histórico escolar. Para receber os alimentos que chegam através de programas como o Mesa Brasil, do Sesc, apresentar os mesmos documentos citados anteriormente, com exceção dos escolares.
E-mail: redacao@f5alagoas.com.br
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