No dia 09 de abril de 1986 era lançado o primeiro Compact Disc do Brasil. Gravação de Nara Leão, 'Garota de Ipanema' chegava em um formato que oferecia maior durabilidade e capacidade de armazenamento. No mundo, o CD começou seu reinado em 1982, com apenas 12 centímetros de diâmetro, armazenando 60 minutos de som. Pouco mais de cinco anos depois, gravadoras como Warner, EMY, Polygram lançavam discos consagrados de Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Elis Regina, Gilberto Gil e Chico Buarque. A superfície redonda despontava como um som melhor do que o vinil e em pouco tempo a quantidade produzida já era superior.
Mas as transformações não pararam por aí. Em 2000, foi a vez do MP3 e, assim como o vinil, o CD começou a cair de seu pico. Já no cenário atual, o uso em larga escala segue em baixa e serviços de streaming e 'nuvem' digital andam dominando a cena. A indústria fonográfica precisou acompanhar as mudanças no comportamento dos consumidores e as inovações tecnológicas. Em épocas de redes sociais, gravadoras e artistas tiveram que mudar a estratégia para chegarem até o público.
O sucesso do compartilhamento fez uma banda alagoana inovar no mercado da indústria fonográfica. Com cinco anos de estrada, a Herocoice lançou o segundo álbum no aplicativo WhatsApp. A ideia foi criar um número de telefone para acesso exclusivo para o compartilhamento do álbum. "As pessoas devem adicionar o número (82) 99827-6465 na agenda do celular. Em seguida, no aplicativo, enviar a mensagem #trabalhonovo. Ela vai ser adicionada à nossa lista de contatos e receberá o álbum de forma gratuita", explica o guitarrista John Mendonça.
Ao som do Rock, a Herocoice traz Deraldo Veloso no vocal; John Mendonça na guitarra; Junior Beatle no baixo e vocal; Marcelo Feth na bateria e Tiago Godoi na guitarra e vocal. O repertório é composto por músicas autorais. "Atualmente estamos tocando músicas do primeiro trabalho, as que são sempre pedidas pelo público. Aos poucos, estamos acrescentando músicas do trabalho novo, para sentir a receptividade do público", conta John Mendonça.
Nascida com o objetivo de manter o Rock fora dos estereótipos da indústria fonográfica, a Herocoice mescla os estilos dos cinco integrantes e traz a influência musical de Ramones, Bob Dylan, Beatles, Megadeath, Angra, Queen, Velhas Virgens, AC/DC, Led Zeppelin, Joelho de Porco. O ritmo forró, o autêntico Luiz Gonzaga, também influência o repertório. "Percebemos que, como fãs do Rock, não poderíamos admitir que o estilo caísse completamente nas garras do mercado fonográfico com rimas baratas e sonoridade sofrível. Além disso, precisávamos alimentar um dos pilares do estilo que é o questionamento. O rock sempre serviu pra questionar. Achamos que o Brasil precisa disso. Temos que falar sobre vários temas importantes para toda a população", diz o guitarrista.
Quem acompanha a banda garante que receber o álbum pelo aplicativo facilitou a relação com a música. "Em apenas quatro dias conseguimos distribuir nosso álbum, não só nas mais diversas cidades do Brasil, como também em outros países, como Paraguai, Nova Zelândia, Alemanha, Estados Unidos e Chile", pontua John.
O engenheiro civil Roberto Celestino está entre os que receberam o álbum pelo aplicativo. Acompanhando a banda desde antes do lançamento do primeiro álbum, ele conta que, assim que foi distribuído, comprou o primeiro CD. "Quando conheci a Herocoice, eles estavam ensaiando as primeiras músicas. Assisti a um ensaio e gostei muito do som da banda. Assim que saiu o disco eu comprei. Compro CD das bandas preferidas, mas também sou assinante do Spotify [serviço de música digital] e baixo muitas músicas", explica.
Receber o álbum pelo aplicativo foi uma experiência prática, conta Roberto. "Muito legal. É prático e mostra que a banda tem visão de marketing. Melhora a relação com a música, porque facilita o acesso. Principalmente aos lançamentos".
Primeiro baixar para depois comprar. Essa é a estratégia da estudante de direito Camila Dias. "Só compro o CD quando gosto muito da banda. Tenho o primeiro da Herocoice, por exemplo. Mas para conhecer, eu costumo baixar mesmo".
Camila conta que receber o álbum pelo aplicativo simplifica o compartilhamento com os amigos, além de poder levar as músicas sempre com ela. "Foi algo muito inovador da banda. É o meio mais rápido, mais prático e utilizado pelas pessoas hoje em dia. A propriedade intelectual é algo muito vulnerável, pouca gente faz questão do CD físico, achei bem estratégico e acessível lançar o disco pelo WhatsApp".
Mercado alagoano
O guitarrista John Mendonça explica que em Alagoas há dois mercados musicais. Um para música cover e outro para músicas autorais. "Este último está equiparado com o sistema educacional. De certa forma, falido. Sendo assim, consideramos que a música, a cultura e o lazer estão ligados diretamente às políticas públicas, nesse caso, a ausência total delas. Somos um estado mais consumista do que provedor".
Segundo John, muitos que tentam promover no mercado, frequentemente cansam por não encontrar abrigo no público. Ao lançar o álbum 'Trabalho Novo' no WhatsApp, a banda Herocoice estava consciente que financeiramente não teria retorno. "E, a priori, essa não é a nossa preocupação. Estamos muito mais preocupados com o que nos indigna. Em relação a dinheiro, sabemos que existem outros meios dentro da música que podemos explorar para manter a banda e a nossa voz viva".
A Herocoice está com a agenda aberta para shows a partir do dia 10 de maio. "Quem estiver com nosso número adicionado, poderá receber conteúdos exclusivos, participar de promoções, e ter acesso a informações em primeira mão".
Fonte: Livia Leão | Portal Gazetaweb.com
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