A estiagem prolongada sempre foi uma das principais dificuldades enfrentadas pelos sertanejos, em Alagoas. Aquilo que era sinônimo de sofrimento, aos poucos, tem sido superado pela maior e mais importante obra de infraestrutura hídrica do Estado: o Canal do Sertão. Hoje, a água do Rio São Francisco adentra o semiárido alagoano e oferta novas possibilidades de geração de renda e qualidade de vida à população.
Às margens do Canal, o agricultor Sandro Rogério de Oliveira celebra a terceira produção de milho depois que a água chegou ao município de Senador Rui Palmeira. “Antes, era seca e sofrimento. Muitos dos meus irmãos foram para São Paulo, buscar emprego, e agora estão voltando. As pessoas querem trabalhar aqui, na nossa terra. Esse é o novo caminho do Sertão”, revela.
Geração de emprego e renda
Com água ao alcance da população, ficou mais fácil diversificar a agricultura familiar e impulsionar a geração de emprego e renda. “Na minha terra, só dava pra plantar milho. Hoje, eu planto de tudo um pouco. Tem macaxeira, melancia, coentro, alface, pimentão, tomate, cenoura... Tudo isso eu estou conseguindo colher, colocar dentro de casa e vender, desde que o Canal chegou”, conta Sandro Rogério.
O agricultor passou a ser beneficiado desde a inauguração do Trecho 3 do Canal do Sertão, em novembro de 2015. A etapa ampliou de 65 para 93 km a distribuição de água no semiárido. Até agora, já foram contemplados 130 mil alagoanos, em seis municípios – Delmiro Gouveia, Pariconha, Água Branca, Olho d’Água do Casado, Inhapi e Senador Rui Palmeira.
A mudança tem permitido acesso à água a quem já enfrentou as mazelas da seca, a fome, a sede e a proliferação de doenças. Por isso, ao perceberem que a transformação já começou nas cidades vizinhas, o casal de agricultores José Amilton, 35, e Quitéria da Silva, 36, de São José da Tapera, contam as horas para que as comportas do Trecho 4 sejam inauguradas.
Eles vivem à beira do Canal, no km 98, com os cinco filhos, e já aproveitam a água liberada nos testes da quarta etapa para a próxima safra de milho. “Nosso inverno começa em abril, mas a gente já vem com três invernos difíceis. Até meu plantio de feijão foi embora, por conta da falta de chuva. Mas a água está chegando e vai ser uma benção! Esse milho aqui já é da água do Canal, porque, se fosse depender da chuva, ia ser como o feijão...”, disse o agricultor.
A saga e a esperança definida pelo visionário Euclides da Cunha
Nascido e criado na roça, ele conhece o valor de cada gota d’água que chega ao Sertão. “Quem mora aqui já sofreu muito. O sacrifício era grande. Meu pai corria de um lado para outro, pra alimentar seus 25 filhos. Até farinha era difícil de conseguir. Na mesa, só tinha cuscuz, feijão e café. Então, a gente sabe o que é a Caatinga feroz, o batido da roça, a vaca passando fome e sem dar leite”, relembra.
O agricultor é a representação daquilo que Euclides da Cunha escreveu em Os Sertões: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Na roça, ele chega a trabalhar 16 horas por dia, sem reclamar e cheio de esperança, com uma jornada que inicia às 4h e só termina às 20h. Uma missão compartilhada com a esposa e os filhos, que já aprendem o principal ensinamento do pai: a honestidade.
“Aqui, ninguém fica parado, meus meninos me ajudam em tudo. Quando o inverno é fraco, a gente sofre. A gente vai atrás de emprego em outros lugares e vai levando a vida assim mesmo, trabalhando, aproveitando cada serviço que aparece, sem pegar o que é dos outros”, enfatiza.
Água, a redenção de um povo
O sítio de José Amilton e Quitéria da Silva está situado em São José da Tapera, o próximo município a ser beneficiado pelo Canal do Sertão. Segundo eles, o cenário nas cidades já abastecidas pela obra nunca foi visto antes.
“É uma coisa linda!”, afirma Quitéria. “Eu nunca vi isso na minha vida. O povo está com água na porta de casa, plantando suas coisas e vendendo. Teve gente que não conseguiu ver essa maravilha, porque partiu antes, mas eu já vejo gente plantando milho, alface, tomate, macaxeira... Tudo por conta do Canal. É lindo demais! Com fé em Deus, isso vai acontecer comigo”, completa o esposo, com um sorriso no rosto.
Se apenas com os testes do Trecho 4 a família já começou a produção de milho, os planos já começaram para o momento em que a água chegará em abundância. “Quando liberarem a água, vamos plantar melancia, abóbora, capim para os bichos. Aqui vai ter legumes até pra servir aos amigos que chegam com fome”, planeja Quitéria da Silva.
Mais 12 km de água
Com 60% das obras do Trecho 4 concluídas, a Secretaria de Estado da Infraestrutura (Seinfra) anuncia a entrega de mais 12 km no primeiro semestre do próximo ano. A água irá de Senador Rui Palmeira a São José da Tapera, até o km 105, o que amplia para 160 mil o número de beneficiados.
"Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas no país, conseguimos manter os trabalhos. Quando assumimos, encontramos essa obra travada e não medimos esforços para torná-la possível. Levamos a água do quilômetro 65 ao 93 e já vamos passar dos 100 quilômetros. Não descansaremos até levar a água do Sertão ao Agreste", destaca a secretária de Estado da Infraestrutura, Aparecida Machado.
A expectativa é de que em maio de 2018 todas as obras do Trecho 4 sejam concluídas, com água até o km 123. Orçada em R$ 3 bilhões até o Trecho 5, a obra é fruto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No total, serão 250 km de água para 42 municípios alagoanos, do Sertão ao Agreste.
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