14/11/2016 09:00:27
Alagoas
Serra da Barriga se notabiliza como herança cultural em solo alagoano
Fundado em 2007, o Parque Memorial Quilombo dos Palmares recebe cerca de 250 turistas por mês, tornando-se um ótimo destino para o turismo de experiência em Alagoas
Camila GuimarãesParque Memorial Quilombo dos Palmares, tombado pelo Patrimônio Histórico Artístico Nacional, consegue retratar cada detalhe do maior Quilombo das Américas, permitindo aos visitantes conhecer de perto o que foi a luta pela liberdade do povo negro
Agência Alagoas

“Se ao pisar o solo teu coração disparar”. Este trecho da música Semba dos Ancestrais, de Martinho da Vila, traz o prenúncio da energia que sobe por nossos pés ao pisar no solo sagrado que abriga a luta e a resistência do povo negro brasileiro, berço de Ganga Zumba, Dandara e Zumbi dos Palmares: a Serra da Barriga.



Após 321 anos da morte de Zumbi dos Palmares, a Serra da Barriga segue como um espaço importantíssimo para se contar a história afro-brasileira. Implantado em 2007, o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, tombado pelo Patrimônio Histórico Artístico Nacional, consegue em cada detalhe retratar o maior Quilombo das Américas, permitindo aos seus visitantes conhecer de perto o que foi a luta pela liberdade do povo negro.

 


Por mês, cerca de 250 turistas sobem a Serra da Barriga para vivenciar um turismo diferenciado no Estado que mostra aos seus visitantes muito mais que sol e mar. O passeio oferece um aprendizado quilombola completo, desde a história que cerca o Quilombo dos Palmares, a arquitetura indígena evidenciada nas ocas, a casa de farinha, capoeira, o artesanato e, por fim, a riquíssima gastronomia.




Os detalhes: nada fica de fora na visita ao Memorial



Recepcionados por Mestre Gill, capoeirista nascido e criado na região, os turistas visitam cada detalhe do Quilombo dos Palmares. Na presença do anfitrião nada fica de fora, e ele afirma que o interesse dos turistas só aumenta.



“A aceitação deles é muito boa, eles chegam aqui querendo conhecer mais da história afro-brasileira e levam o conhecimento deles para a cidade natal. Durante o passeio fazemos um giro de 360º mostrando cada ponto desde a entrada do parque, passando pela Lagoa do Negro e finalizando no restaurante”, comenta Gill.

 


Para a maioria dos visitantes o passeio é uma oportunidade indispensável durante a estadia em Alagoas. Vai muito além de uma viagem, se configura como um momento único de conhecer pessoalmente o lugar que muitos só ouvem falar no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.



Lauriene Campanha saiu de São Paulo com o desejo de conhecer o Quilombo dos Palmares dentro da bagagem. De acordo com a dona de casa de 58 anos, a paz e a tranquilidade presentes no lugar tornam a experiência turística encantadora. Para ela, o mais importante da experiência será passá-la adiante quando voltar para casa.



“A minha percepção sobre a história de Zumbi vai mudar muito depois de hoje, principalmente porque tenho duas filhas estudantes e só de saberem que nós viríamos para cá elas já querem vir para Alagoas conhecer o Quilombo. Quando elas vierem e conhecerem vão passar para frente o que aprenderam aqui e isso vai crescer e contribuir para a propagação dessa história tão importante para o Brasil”, destaca a turista.



Alagoas conta com 59 quilombos reconhecidos, sendo o maior o Parque Memorial Quilombo dos Palmares. Conhecida como a Terra da Liberdade, União dos Palmares conta ainda com o Muquém, Jussarinha, Filus e Mariana.



Artesanato: os ancestrais moldados pelas mãos da mestra



Vem do povoado do Muquém a arte moldada no barro de Dona Irinéia, mestra artesã Patrimônio Vivo de Alagoas. As peças expressivas de Dona Irinéia já frequentaram exposições nas cidades de Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, chegando até a Itália, em 2015.

 


Além dos contornos expressivos dos ancestrais moldados pelas mãos de Dona Irinéia, na região é possível encontrar ainda as panelas, moringas, chaleiras e cuscuzeiras de Mestra Marinalva feitas com o barro extraído nas imediações do Rio Mundaú.



Para Mãe Neide, uma das responsáveis pelo passeio étnico racial na Serra da Barriga, a presença constante de visitantes é um sonho realizado não só para os quilombolas da região, mas para todo o Brasil.



“Eu digo que quem vem para a Serra não escolhe, é escolhido. Porque voltamos para o útero de onde tudo surgiu. A gente vê na carinha de cada visitante a emoção em pisar nesse solo. Além disso, trabalhamos a geração de emprego e renda, porque com isso incentivamos os artesãos da cidade a subirem a serra para vender seus artesanatos. Os turistas agradecem por escolher esse lugar, porque aqui eles se alimentam de cultura e história.”, ressalta Mãe Neide.



Gastronomia é outro atrativo inesquecível para quem visita a Serra


Alimento é o que não falta ao fim do passeio. Depois de conhecer todos os detalhes do Quilombo dos Palmares, assistir a uma roda de capoeira, ter uma visão panorâmica nos mirantes do Quilombo e adquirir o artesanato local, os visitantes descem até metade da serra para encontrar um refúgio no restaurante Baobá Raízes e Tradição.

 


Servidos de um verdadeiro banquete de comidas típicas do Quilombo, os turistas podem se deliciar com entradas, pratos principais, sobremesas e cachaças artesanais, feitas e servidas com todo o cuidado que a tradição pede, sendo degustadas com direito a música ao vivo e redes para descansar após a refeição.



Pode-se dizer que a melhor forma de conhecer uma região é provando sua gastronomia. Pensando nisso, de 17 a 20 de novembro de 2016, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Alagoas (Sedetur), em parceria com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e o Parque Shopping, promove o I Festival Gastronômico do Quilombo.



Durante o festival, que busca aproximar as pessoas da cultura Quilombola, o público poderá degustar pratos típicos e exclusivos da culinária, entre R$ 15 e R$ 20, além de conferir o artesanato local, apresentações culturais típicas e a exposição fotográfica dos Quilombos. O festival acontece das 17h às 22h, no Parque Shopping.

 

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