Em meio à expectativa que cerca a nova denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) contra ele, o presidente Michel Temer inicia uma série de acordos com a China que podem contribuir para o redesenho do papel do Brasil no comércio global.
A janela de oportunidade é única. Foi aberta pela decisão do presidente americano, Donald Trump, de abandonar o Tratado da Parceria Transpacífico (TPP), logo no início do seu governo. O abandono da Ásia como preocupação estratégica central dos Estados Unidos deixou o futuro comercial da região em mãos chinesas.
É justamente esse o contexto em que se insere a nova aproximação com o Brasil. Diante da retórica de Trump de declarar uma guerra comercial contra a China – por enquanto, apenas retórica –, o mercado brasileiro surge como uma compensação desejável para as eventuais perdas. Em contrapartida, podemos obter acesso facilitado ao mercado chinês, o que mais cresce no mundo.
Está na pauta das conversas de Temer com o presidente chinês, Xi Jinping, todo tipo de negócio – de aviões da Embraer (20 serão vendidos à Fuzhou Airlines) a empresas elétricas (estatais chinesas já detêm participações em sete usinas e linhas de transmissão brasileiras, entre elas a que trará energia de Belo Monte ao Sudeste).
No outro lado da balança, as exportações brasileiras para a China cresceram um terço este ano e já chegam a US$ 30,8 bilhões. No ano passado, o Brasil vendeu US$ 35,2 bilhões em mercadorias para a China. Apesar de já ser o maior destino das nossas exportações (19% do total), a China foi a terceira maior origem de nossas importações (17% do total), atrás de União Europeia e Estados Unidos.
A China se queixa de 37 medidas anti-dumping aplicadas pelo Brasil contra seus produtos, em retaliação contra barreiras a produtos agrícolas brasileiros, sobretudo frango e açucar. O Brasil foi o único alvo de sobretaxas adotadas neste ano nesses dois setores para exportações que superarem a cota estabelecida.
A agenda de Temer parece bem mais realista que a adotada por sua antecessora. A ex-presidente Dilma Rousseff, cujo impeachment completou um ano, voltou de uma viagem a Pequim com a promessa de investimento de US$ 12 bilhões na produção de iPhones e iPads no Brasil. A ideia era criar 100 mil empregos. Hoje apenas 2 mil trabalham na fábrica da Foxconn em Jundiaí, produzindo apenas iPhones.
Outras promessas do governo Dilma incluíam a participação dos chineses no projeto do trem-bala entre São Paulo e Rio de Janeiro (a China montou em menos de uma década a maior rede de trens de alta velocidade do mundo) e numa ferrovia ligando o Atlântico ao Pacífico, com investimentos chineses de US$ 53 bilhões que ainda não saíram do papel.
A viagem de Temer não tem como objetivo ideias mirabolantes desse tipo, que dão asas ao marketing etéreo, mas são incapazes de fincar os pés no chão de concreto. Se destravar as exportações brasileiras e atrair investimentos, ele já terá obtido uma vitória relevante.
Será, provavelmente, um primeiro passo na abertura de novos mercados asiáticos ao Brasil. O continente que Trump desdenha é a região do planeta que mais cresce e emerge como desafiante, no século XXI, à hegemonia transatlântica que dominou o XX.
China, Japão, Coreia, Indonésia, Malásia, Vietnã são mercados pujantes e pouco explorados pelos brasileiros. Para não falar em Austrália, Nova Zelândia, Índia e Rússia. O Brasil faz bem em se aproximar dos chineses neste momento de turbulência no tabuleiro geopolítico internacional. O futuro deste planeta depende eles. Precisamos estar preparados.
Fonte: Globo.com
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