Após um longo período de recessão, o mercado de automóveis em Alagoas volta a respirar e está ganhando fôlego. Aos poucos, os números de vendas de carros novos e seminovos vão voltando ao normal, aquecendo a economia do estado. Empresários e economista avaliam o mercado e preveem melhorias significativas para os próximos meses, mas temem que uma crise política venha a atrapalhar essa ascensão.
Segundo dados da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), somente em Maceió, houve um aumento de 63,6% nas vendas de carros no mês de setembro deste ano em comparação com o mesmo período de 2016. Já o acumulado de 2017 teve um crescimento de 20,1% em relação ao ano passado.
Este mesmo aumento é percebido nas vendas em todo o estado. Dados da Fenabrave apontam que entre setembro de 2016 e 2017 o crescimento foi de 62,9% e, no acumulado, o aumento chegou a 17%. Esses valores superam a média nacional, onde os comparativos chegam a 28,26% nos meses de setembro e a apenas 8,98% no acumulado.
Esse aumento nas vendas já é comemorado, mas com cautela, pelas concessionárias do estado. Representantes de duas grandes lojas do estado se demonstraram muito otimistas em relação à essa recuperação do mercado.
Daniel Accioly, diretor executivo da Cycosa Veículos, e Wallen Rezende, gerente comercial da Importadora Veículos, acreditam que a crise política afetou diretamente a economia nacional, mas que com o passar do tempo, houve uma separação automática da economia e da política, o que contribuiu para a recuperação de alguns segmentos.
Accioly destaca que nos anos de 2014, 2015 e 2016 a população se via com medo de realizar investimentos por conta da instabilidade econômica. Muitas optaram por não trocar de carro ou comprar um veículo, devido às incertezas políticas.
"A economia está se desapegando dos problemas políticos e as pessoas estão voltando a comprar, afinal, o ânimo é motivador para o crescimento de vendas. Nesse período as pessoas aprenderam a se conter um pouco mais e realmente só efetuar uma compra deste porte quando têm certeza do que estão fazendo", comentou.
O empresário afirmou que a melhora começou a ser perceptível já em janeiro deste ano, mas que ainda um pouco tímida. Com o passar dos meses, ela foi crescendo gradativamente.
Ele espera que neste segundo semestre, as vendas melhorem significativamente e projeta uma estabilidade maior nos próximos dois anos. Já uma recuperação total ele espera apenas para meados de 2025, quando o mercado de automóveis deve manter a média anual de vendas.
Wallen Rezende, gerente da Importadora Veículos, é um pouco mais otimista. Ele já vê uma melhora momentânea e afirma que em 2020 o mercado de automóveis estará aquecido novamente, mas ressalta a importância da estabilidade política para que isso venha a acontecer.
O gerente afirmou que, analisando graficamente as vendas de veículos novos este ano, apenas o mês de abril registrou uma baixa. Foi justamente o mês em que vazaram os áudios gravados por Joesley Batista em conversa com o presidente Michel Temer sobre um suposto recebimento de propina. Assunto que abalou o país, incluindo a economia. Na ocasião, a Bolsa de Valores chegou a registrar queda de mais de 8%, obrigando a encerrar o trabalho mais cedo.
"Percebemos uma leve melhora, que foi se repetindo mês a mês. E quando a denúncia veio à tona e uma possível queda do presidente começou a ser cogitada, o mercado sentiu. Então o mês de abril foi difícil para nós, mas, felizmente, no mês de maio já sentimos uma melhora e desde então a curva está subindo", destacou.
Ele também acredita que a separação de política e economia contribuíram para a recuperação do mercado em Alagoas. Economicamente falando, ele espera que até o final de 2018 não aconteça nenhuma nova "crise política", o que seria, para ele, devastador para economia nacional, especialmente para o mercado de veículos.
Conscientização
Wallen chamou a atenção para a conscientização do público consumidor. Segundo ele, os compradores não mais compram por impulso, como acontecia em anos anteriores, e sim ele só compra quando tem certeza de que pode pagar as parcelas.
"As vezes realizamos feirões e o comprador comparece ao estande na expectativa de comprar, mas percebe que aquele não é o momento ideal. Então ele volta com 1 mês depois, paga um pouco mais pelo carro, mas compra consciente de que pode fazer a compra, sem onerar o orçamento familiar", disse.
Segundo o gerente comercial, os bancos também apertaram a triagem na hora de conceder financiamentos, o que contribuiu para conscientização dos consumidores. "Anteriormente víamos pessoas com renda de até R$ 3 mil conseguirem financiamentos onde a parcela era de R$ 900. Ou seja, um valor muito alto que, por muitas vezes, ele não conseguia arcar e que terminava em inadimplência. Isso trouxe bastante prejuízo e insegurança para o mercado", analisou.
Para o economista Cícero Péricles, essa melhora da economia é reflexo do aprendizado que a população teve nos anos de crise. Agora eles estão mais seguros para investir na compra de carros, casas, e realizar uma viagem. Coisa que não era percebida em anos anteriores.
"A retração foi tão forte que o risco de não honrar com os compromissos fez com que as pessoas se segurassem um pouco antes de realizar qualquer tipo de investimento desse porte. Claro que a política afetou, mas a economia soube se desvencilhar e seguir com as suas próprias pernas. A tendência é melhorar daqui pra frente, mas com cautela, por conta da instabilidade politica", explicou.
SEMINOVOS
Ambos os representantes concordaram que nos anos em que o Brasil vivia a crise financeira, a melhor opção pro consumidor eram os carros seminovos, devido aos baixos preços e também pela qualidade dos carros ofertados.
Para eles, hoje, a venda de carros novos e seminovos está praticamente igual, mas com uma leve tendência de aumentar a venda de carros zero quilômetro.
PESADOS
Em relação ao comércio de caminhões e ônibus, Daniel Accioly salienta que a retomada "depende de uma série de fatores (como obras, transporte de agricultores etc) para alavancar as vendas, por isso, deve-se esperar um pouco mais".
Com isso, a Fenabrave alterou a projeção para 2017, de queda de 11,5% para recuo de 2%.
Fonte: Gazetawe.com
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