A sétima temporada de Game of Thrones tinha motivos para ser marcante de várias formas; era a primeira que não contaria com nenhum resquício sequer da história já apresentada nos livros de George R.R. Martin, e isso poderia ser algo realmente positivo. A liberdade, ainda que limitada, tornaria possível estender narrativas e aprofundar personagens ao mesmo tempo que fechasse o cerco em volta dos protagonistas.
Mas não há como evitar o óbvio: Game of Thrones está se tornando incapaz de segurar o próprio legado.
Há duas maneiras, bastante distintas, de se analisar e entender a season finale, ‘The Dragon and the Wolf’. É importante pensar os dois lados para saber por que a temporada, como um todo, tem dividido tanto as opiniões (mais do que nos anos anteriores), mas é basicamente uma estratégia muito simples, e muito antiga: é tudo pelo valor do choque, agora.
Em se tratando de uma atração campeã de audiência e um dos assuntos mais comentados nas redes sociais durante os meses em que fica no ar, o choque instantâneo é um elemento essencial. Não só para mantê-la nas conversas, mas porque é disso que se alimentam os comentários, as discussões e os criadores de conteúdo. Mais do que isso, as reviravoltas e os grandes momentos de satisfação coletiva servem para ‘aliviar’ os pontos negativos, como num elaborado sistema de recompensas.
E é exatamente por isso que, para muitos, fazer críticas ao direcionamento da série se torna ofensa pessoal.
Mas os problemas precisam ser apontados, e apesar do final grandioso, a sétima temporada chegou a um desfecho anticlimático. O episódio ‘The Dragon and the Wolf’ prioriza a construção de uma atmosfera, cujo desfecho mesmo só irá acontecer na temporada final, e através de vários encontros pouco confortáveis, dá o passo final e amplamente previsível: é hora de todos se unirem para lutar na Grande Guerra.
A ‘reunião de cúpula’ que ocorreu no Fosso dos Dragões trouxe alguns bons momentos de diálogo, e apesar de a exposição de planos ter ficado parecendo um jogral, completamente ensaiado, foi o que proporcionou talvez a melhor cena de diálogo de toda a temporada. Peter Dinklage (Tyrion Lannister) e Lena Headey (Cersei Lannister) contracenando novamente é um respiro em meio a um mar de atuações medianas e mal-dirigidas dos outros protagonistas (leia-se: Emilia Clarke e o limitado Kit Harington). Foi um momento intenso e emocionante, que de uma certa forma serviu, de maneira triste, para nos lembrar de outros tempos, melhores, de Game of Thrones.
Mas apesar de ser um longo leva-e-traz, toda a sequência no Fosso dos Dragões tem grandes implicações para os protagonistas da história. Era previsível, estava completamente entregue, porém isso não é (ou não deveria ser) necessariamente algo ruim; mais sobre o assunto adiante.
O grande indício de que Game of Thrones perdeu o seu toque está na forma como construiu a relação entre Arya (Maisie Williams) e Sansa (Sophie Turner) durante a temporada. O conflito entre as duas sempre foi algo esperado, dadas as desavenças que tinham desde a infância, mas a construção descaracterizou tanto as duas personagens que as fez parecer bobas e irracionais. O esforço foi tanto para preservar a reviravolta que o roteiro se tornou incoerente somente para preservar o valor do choque.
Não há o que justifique a cena do episódio 6 em que as duas trocam farpas quando estão sozinhas no quarto, por exemplo. O fato de “Mindinho poder estar observando” (o que certamente será a justificativa repetida à exaustão) não basta. Isso subentende que a série não tem a menor cerimônia ao subestimar o espectador, e usar de manipulações tão baixas (como fazer momentos importantes acontecerem fora das câmeras) que abandonam o legado que ela mesma construiu.
Para uma série que iniciou sua a história convidando o espectador a pensar o roteiro e examinar o psicológico de cada personagem, o que Game of Thrones faz em sua reta final é o oposto: quanto mais tempo se dedica para tirar sentido da história, mais furos, incoerências e previsibilidades vão aparecendo. E esta, talvez, seja a constatação mais triste que poderia ser feita.
Estamos a seis episódios do fim, e talvez a previsibilidade seja mais em decorrência da proximidade dos episódios finais que desleixo. É difícil não admirar a grandiosidade do momento em que Viserion derruba a Muralha; ou não vibrar com Sansa, Arya e Bran executando Mindinho juntos. Mas também é difícil (e injustificável) precisar suspender a lógica — a lógica criada dentro da própria adaptação, deixando de lado a obra original de George R.R. Martin — para que estes momentos sejam possíveis.
Se a entrega fosse competente, se não faltasse tanta coerência e as manobras do roteiro não fossem extremamente maniqueístas, a previsibilidade não seria um problema — o desenvolvimento da história é mais importante do que o resultado final, e que o diga Breaking Bad. É este o caso que torna o romance entre Jon Snow e Daenerys Targaryen tão risível: é algo imposto de maneira tão óbvia e brusca que perde completamente o impacto que deveria ter — e provavelmente terá, caso o casal também aconteça nos livros.
É possível que Jaime Lannister estivesse certo: “Talvez tudo se resuma a pintos no final.”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Lyanna deveria ter fugido e supostamente se casado com Rhaegar Targaryen. Por que o episódio mostrou Viserys no flashback, não sabemos.
Aliás, precisava mesmo Lyanna ter batizado o filho com o mesmo nome do outro filho de Rhaegar — que ela, indiretamente, ajudou a matar?
Fonte:MSN
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