No último dia 10 de maio de 2017, o Serviço de Cardiologia da Santa Casa de Maceió realizou o primeiro implante valvar aórtico transcateter do estado utilizando uma prótese autoexpansível montada em cateter chamada “CoreValve Evolut R”, dispositivo este fabricado por uma empresa norte-americana.
O cardiologista intervencionista e hemodinamicista Leilton Luna Jr., coordenador e diretor técnico do Laboratório de Hemodinâmica da Santa Casa de Maceió, destaca que para viabilizar o procedimento e oferecer essa alternativa ao paciente portador desta doença, faz-se necessário investir no conceito do “time do coração” (Heart Team).
Essa equipe multidisciplinar envolve médicos cardiologistas hemodinamicistas, com retaguarda de cirurgião vascular, cirurgião cardíaco, ecocardiografista, anestesiologista, neuroradiologista intervencionista, cardiologistas clínicos, cardiologista com especialização em imagem cardiovascular, médicos intensivistas, enfermeiros capacitados, técnicos de enfermagem e técnicos de radiologia, entre outros.
“É uma equipe empenhada em oferecer o melhor suporte aos portadores da estenose valvar aórtica, grande causador de morte nos pacientes com moderado a alto risco cirúrgico em cirurgias convencionais”, frisou Leilton Luna.
O cardiologista intervencionista Evandro Martins, responsável pelo programa de TAVI e cardiopatias estruturais na Santa Casa, comenta: “Este procedimento é chamado de TAVI, uma sigla do inglês para ‘transcatheter aortic valve implantation’, que nada mais é que o implante percutâneo de uma válvula protética que substitui a válvula aórtica nativa do paciente que está doente e mal funcionante”.
Conforme ele explica, a disfunção da válvula aórtica (ou estenose valvar aórtica) é uma doença que leva a falta de ar, cansaço, dor no peito, desmaios e muitas vezes à morte dos pacientes. Ela ocorre devido à degeneração ou desgaste da válvula aórtica ao longo do tempo. É uma enfermidade comum que comete 3 a 5% dos idosos acima de 75 anos.
“A aorta é a principal artéria que carreia o sangue bombeado pelo coração para os demais órgãos do corpo. Ao sair do coração, o sangue flui através da válvula aórtica para o interior da aorta. Na estenose aórtica, a válvula aórtica não abre completamente. Isso reduz o fluxo de sangue que sai do coração para o resto do corpo”, detalhou o médico cardiologista Edécio Albuquerque.
“À medida que a válvula aórtica fica mais estreita, menos sangue é bombeado do coração para o corpo e a pressão aumenta no interior do ventrículo esquerdo do coração. Isso faz com que ele se torne mais espesso e fique mais sobrecarregado o que pode causar cansaço, dor no peito e desmaio. Com o aumento da pressão intracardíaca e a ineficiência do coração como bomba, o sangue pode retornar aos pulmões e ocasionar falta de ar, insuficiência respiratória e morte”, acrescentou o especialista.
O cardiologista intervencionista Evandro Martins ainda comentou que o TAVI transfemoral é uma técnica minimamente invasiva para correção desta enfermidade. A TAVI é realizada somente em grandes hospitais de todo o mundo, em laboratórios de hemodinâmica credenciados e certificados onde se realiza o implante da prótese por um cateter que pode ser inserido através de um pequeno “furo” ou punção na virilha. Desta forma, se evita incisões para abertura do tórax e parada cardíaca temporária, como é feito no procedimento cirúrgico convencional.
O TAVI é uma alternativa para pacientes idosos que têm um risco de morte muito elevado se submetidos ao procedimento cirúrgico tradicional. Foi autorizado pela ANVISA para uso no Brasil em 2008, e desde então, diversos pacientes já foram tratados em todo o país.
O procedimento, que até então era limitado aos hospitais do eixo Sul-Sudeste, com poucos casos no Norte-Nordeste, agora está acessível aos alagoanos.
Segundo o presidente da regional Alagoas da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o hemodinamicista e doutor em cardiologia Francisco Costa, “esta técnica constitui um avanço importante no tratamento da estenose valvar aórtica e a possibilidade de devolver qualidade de vida aos pacientes, sendo importante também ao crescimento científico da cardiologia no estado.
Antes os pacientes tinham duas alternativas: submeter-se à cirurgia convencional (aceitando o risco cirúrgico elevado) ou levar uma vida de baixa qualidade e bastante limitada, com alto risco de morte quando não adequadamente tratada dentro de um ano após o diagnóstico. O cardiologista Amilson Pacheco, coordenador do Serviço de Hemodinâmica, comentou: “Hoje temos como alternativa em nosso estado um procedimento minimamente invasivo, de menor risco, que melhora bastante a qualidade de vida e diminui a mortalidade destes pacientes. Esta avançada tecnologia é mais uma conquista e símbolo do pioneirismo da Santa Casa de Maceió, consolidado como referência em cardiologia em nosso estado e no Brasil.”
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