Arthur Lula da Silva, de 7 anos, neto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, morreu nesta sexta-feira vítima de meningite meningocócica.
O menino deu entrada no Hospital Bartira, em Santo André, às 7h20 desta sexta-feira com "quadro instável" e morreu às 12h11 "devido ao agravamento do quadro infeccioso", segundo a assessoria da Rede D'Or São Luiz, da qual o hospital faz parte.
Arthur era filho de Marlene Araújo Lula da Silva e Sandro Luis Lula da Silva, filho da ex-primeira-dama Marisa Letícia, que morreu em fevereiro de 2017, e do ex-presidente Lula.
A meningite é um processo inflamatório das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. Ela pode ser causada por diversos agentes infecciosos (bactérias, vírus ou fungos).
A meningocócica é uma meningite bacteriana e, junto com a pneumocócica, é considerada uma das formas mais graves e preocupantes da doença.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, em 2018, foram registradas 1.072 ocorrências de doença meningocócica no Brasil e 218 mortes. Em 2017, no mesmo período, foram 1.138 e 266, respectivamente.
Em relação à meningite pneumocócica, foram 1.030 ocorrências e 321 mortes em 2017, e 934 e 282 em 2018. As meningites causadas por outras bactérias somaram 2.687 notificações e 339 óbitos em 2017, e 2.568 e 316 em 2018.
No caso da viral, o governo registrou 7.924 casos e 107 mortes em 2017. No ano passado, foram 7.873 e 93. Já meningites com outras causas contabilizaram 796 ocorrências e 169 óbitos em 2017, e 624 e 122 em 2018.
O ministério disse em nota que, no Brasil, "a meningite é considerada uma doença endêmica, deste modo, casos são esperados ao longo de todo o ano, com a ocorrência de surtos e epidemias ocasionais".
O órgão complementou que a incidência da meningite bacteriana é mais comum no período outono-inverno, e da viral, na primavera e no verão.
A seguir, conheça melhor cada um dos tipos da doença.
Meningite bacteriana
Trata-se da forma mais grave da enfermidade, e são várias as bactérias que podem provocá-la, como Neisseria meningitidis (ou meningococo), Streptococcus pneumoniae (ou pneumococo), Haemophilus influenzae, Mycobacterium tuberculosis, Streptococcus sp. (especialmente os do Grupo B), Listeria monocytogenes, Escherichia coli e Treponema pallidum.
É importante destacar que a incidência de cada uma depende da faixa etária. O Ministério da Saúde alerta que os recém-nascidos são atingidos por Streptococcus do grupo B, Streptococcus pneumoniae, Listeria monocytogenes e Escherichia coli; bebês e crianças, Streptococcus pneumoniae, Neisseria meningitidis, Haemophilus influenzae e Streptococcus do grupo B; adolescentes e adultos jovens, Neisseria meningitidis e Streptococcus pneumoniae, e idosos, Streptococcus pneumoniae, Neisseria meningitidis, Haemophilus influenzae, Streptococcus do grupo B e Listeria monocytogene.
Seus sintomas incluem febre alta, dor de cabeça e rigidez do pescoço ou da nuca. Também é normal o paciente ter mal estar, náusea, vômito, fotofobia (aumento da sensibilidade à luz) e confusão mental. Conforme o quadro se desenvolve, acrescentam-se à lista convulsão, delírio, tremor e coma.
Dentre as meningites bacterianas mais preocupantes, pontua o infectologista Jean Gorinchteyn, do Instituto Emilio Ribas, de São Paulo, estão a meningocócica, justamente a que acometeu o neto de Lula, e a pneumocócica.
A primeira ocorre quando a bactéria cai na corrente sanguínea e promove a liberação de fatores inflamatórios. Isso faz os vasos dilatarem, tendo como consequências queda de pressão arterial e taquicardia, podendo levar a pessoa à morte.
"Ela é bastante temida por conta da rápida evolução, alta letalidade, possibilidade de deixar sequelas (cegueira, surdez e amputação de membros são algumas) e potencial de surtos e epidemias", diz o médico. Além dos sinais já descritos, é normal causar manchas arroxeadas e dores pelo corpo, calafrio, diarreia, fadiga e mãos e pés frios.
No caso da pneumocócica, o agente causador é transportado pelo sangue até ao cérebro, onde gera uma forte reação inflamatória. Os sintomas são basicamente os mesmos das demais meningites, porém, há risco de importantes consequências neurológicas, tais como dificuldades para andar e falar.
A transmissão da meningite bacteriana se dá de pessoa para pessoa por meio das vias respiratórias, ou, seja, de gotículas e secreções que saem do nariz e da garganta quando os infectados tossem ou espirram. Outras bactérias, como Listeria monocytogenes e Escherichia coli, se espalham pelos alimentos contaminados.
Meningite viral
Os agentes causadores são Enterovírus não-pólio (Coxsackie e Echovírus), vírus do grupo herpes (herpes simples, varicela-zoster, Epstein-Barr e citomegalovírus), arbovírus (dengue, zika, chykungunya, febre amarela e febre do Nilo Ocidental), vírus do sarampo e da caxumba e adenovírus.
Os sintomas são semelhantes aos da meningite bacteriana, só que mais brandos. Eles incluem febre, dor de cabeça, rigidez no pescoço ou na nuca, náusea, vômito, perda de apetite, irritabilidade, sonolência ou dificuldade para acordar do sono, letargia (falta de energia) e fotofobia.
Este tipo tem várias formas de transmissão, a depender do vírus. Quando se trata do enterovírus, a contaminação é fecal-oral - se dá por meio do contato próximo com uma pessoa doente, ao tocar objetos e superfícies que contenham o microorganismo e através de água ou alimentos crus infectados. Os arbovírus são transportados pela picada de mosquitos infectados.
Meningite fúngica
Causam a doença os fungos Cryptococcus neoforman, Cryptococcus Gatti, Candida albicans, Candida tropicalis, Histoplasma capsulatum, Paracoccidioides brasiliensis e Aspergillus fumigatu.
Os sinais são basicamente os mesmos das demais: febre alta, dor de cabeça intensa, rigidez no pescoço/nuca, náusea, vômito, confusão mental e sensibilidade à luz.
Nesta forma da patologia, a transmissão ocorre por meio da inalação dos esporos (pequenos pedaços de fungos), que entram nos pulmões e chegam até as meninges. Alguns fungos também encontram-se em solos ou ambientes contaminados com excrementos de pássaros, como pombos, e morcegos.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico das meningites é feito por meio de exames de sangue e líquido cerebroespinhal (líquor). São eles que determinarão o tipo da doença e, com isso, a conduta que será adotada pelos médicos.
No caso das bacterianas, o tratamento é feito com antibióticos, associados ou não a corticóides, de 7 a 14 dias. A internação normalmente é necessária.
Nas virais, dependendo do agente, é preciso ministrar antivirais e corticóides por cerca de uma semana. Em geral, as pessoas são internadas e monitoradas quanto aos sinais de maior gravidade.
Por fim, nas meningites fúngicas, a prescrição é de antifúngicos por 4 a 12 semanas, também escolhidos com base no microorganismo identificado no corpo do paciente.
Prevenção
Demetrius Montenegro, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), da Universidade de Pernambuco (UPE), diz que para alguns dos agentes infecciosos causadores da meningite existem vacinas.
"Elas são oferecidas para crianças e adolescentes o ano todo na rede pública de saúde. Adultos que tenham alguma doença crônica, como diabetes e cardiopatias, ou estejam fazendo tratamento contra câncer também devem recebê-las", indica.
As disponíveis no calendário de vacinação do Programa Nacional de Imunização (PNI) são: meningocócica conjugada sorogrupo C, pneumocócica 10-valente (conjugada), pentavalente e BCG.
As vacinas ACWY, contra quatro tipos de meningite, e a vacina contra a meningocócica do grupo B estão disponíveis apenas na rede particular.
Além desta proteção, o médico recomenda evitar passar muito tempo em ambientes fechados e cheios de pessoas; manter, sempre que possível, a casa e o local de trabalho bem ventilados, inclusive no inverno, e cuidar da higiene pessoal.
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