Eles precisam ser objetivos e racionais para tomar decisões e lidar com os imprevistos de maneira que isso não os impeça de trabalhar. Mas também precisam ser profundamente humanos para entender os pacientes e confortá-los. Tiram lições dolorosas de cada ocorrência, desenvolvendo habilidades de colocar-se no lugar do outro para entender suas necessidades, sentimentos e problemas. É assim a rotina dos profissionais que atuam no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que deve ser acionado por meio do número 192.
E esse trabalho ocorre com o propósito de salvar a vida de pessoas que sofrem acidentes de trânsito, feridas por armas de fogo e branca, vítimas de Acidente Vascular Cerebral (AVC), de infartos e, inclusive, que estão em surto psicótico, como ocorreu com um paciente socorrido na semana passada, no bairro do Rio Novo, em Maceió. No dia da ocorrência, por volta das 16h53, uma ligação telefônica informava sobre um paciente psiquiátrico, de 26 anos, que apresentava um quadro de alucinação.
Após detectar o problema, a atendente transferiu o telefonema para um médico, que fez o diagnóstico da situação e iniciou o atendimento no mesmo instante, orientando a família do paciente. O médico, por sua vez, explicou a família que a ambulância só poderia sair da Central do Samu Maceió quando a Polícia Militar garantisse a presença no local, a fim de preservar a integridade física dos socorristas, por se tratar de um paciente com transtorno mental.
Nesse intervalo, uma técnica de enfermagem, ao ouvir o chamado da central via rádio, deslocou-se imediatamente para a unidade móvel e conferiu se toda a equipe (motorista-socorrista e enfermeira) já havia sido acionada se já os aguarda dentro da ambulância. Não demorou muito para que uma Unidade de Suporte Básico (USB) saísse em direção ao Rio Novo. O percurso demorou onze minutos. Às 17h04, a unidade móvel e a viatura da polícia chegaram ao local.
A técnica de enfermagem Rose Montenegro, de 41 anos, verificou com a família se o paciente psiquiátrico fazia uso de alguma medicação controlada e observou, atentamente, se ele apresentava manifestações subjetivas, como agressividade, irritabilidade, agitação psicomotora, fala sem sentido e desconexão com a realidade. Durante a abordagem, ela verificou também a presença de materiais cortantes, ou outras armas com o paciente. Muito dedicada, ela o chamava pelo nome e evitava fazer movimentos bruscos que pudessem assustá-lo.
Enquanto Rose Montenegro convencia o paciente a entrar na ambulância, outra técnica de enfermagem comunicava o médico regulador sobre as dificuldades que estavam enfrentando. Ela dizia: “O paciente está calmo, mas não coopera com a equipe”. Do outro lado da linha, o médico falava: “Explique a família que o nosso Protocolo de Acolhimento e regulação proíbe deter o paciente à força. Isso não resolve o problema e, inclusive, pode agravá-lo. Ele precisa vir por livre e espontânea vontade. Do contrário, vocês podem retornar à base do Samu”.
Do lado de fora, a noite caía sobre a rua deserta. A família não tinha outra saída, a não ser amarrar as pernas do paciente com pequenos pedaços de pano e trazê-lo até a maca hospitalar, que o aguardava em frente à sua casa. Já os profissionais do Samu tentavam mantê-lo calmo. Conforme a orientação da Central de Regulação do Samu, o paciente deveria ser transportado para o Hospital-Escola Portugal Ramalho, para onde realmente foi levado e recebeu o atendimento médico de que tanto precisava.
Trabalho Árduo
O relato acima mostra como o cotidiano dos socorristas do Samu é árduo, uma vez que o serviço é responsável por fazer o socorro de mais de 3,3 milhões de alagoanos. Um trabalho que acontece todos os dias da semana, 24 horas por dia, onde três atendentes se revezam por cada turno e recebem todas as chamadas do Estado, em cabines semelhantes às usadas em escritórios.
Paralelamente, dois médicos e um estagiário de medicina recebem as informações repassadas pelas atendentes e, com base nelas, decidiam que tipo de ambulância irá atender às chamadas e para onde o paciente deve ser encaminhado. No canto esquerdo da sala, dois técnicos ficam de frente para dois grandes monitores, que exibem um mapa semelhante ao do serviço Google Earth.
Nele, pontos vermelhos e verdes se alternavam na tela. Os verdes são as ambulâncias livres, enquanto os vermelhos mostram as que estão em ação. Todas as ambulâncias do serviço são monitoradas por GPS e sua localização muda o tempo todo. Depois que a chamada é recebida e passada a um dos médicos, eles acionam uma das bases do Samu na capital ou no interior que, por sua vez, enviam uma ambulância ao local.
Socorro rápido e qualificado
As Unidades de Suporte Básico do Samu são responsáveis pelo atendimento de casos urgentes, mas sem risco de morte. Elas são equipadas com prancha e talas para imobilização, colares cervicais, oxigênio, aspirador, aparelho para medir a pressão, estetoscópio, ambulatório adulto e infantil, além de materiais para pequenos procedimentos de enfermagem. Contam com motorista e auxiliar ou técnico de enfermagem.
Já as UTIs móveis, ou Unidades de Suporte Avançado, são chamadas para atuar nos casos mais graves, como os relacionados a ferimentos por arma branca e de fogo, infartos, acidentes de trânsito, envenenamento e derrame cerebral. São unidades equipadas com itens presentes na unidade de suporte básico mais equipamentos de UTI como monitor-desfibrilador, respirador, oxímetro de pulso e materiais para procedimentos médicos invasivos.
A equipe é formada por motorista, enfermeiro e médico. As ambulâncias de Suporte Básico e as UTIs móveis fazem atendimentos em vias públicas, residências ou locais de trabalho. O Samu de Alagoas oferece um trabalho de atendimento pré-hospitalar de urgência e emergência e é um dos únicos do País que está estrategicamente instalado em todo o território alagoano, com uma Base Descentralizada a cada 30 km, visando oferecer a população um atendimento pré-hospitalar eficiente.
De acordo com a secretária de Estado da Saúde, Rozangela Wyszomirska, o serviço prestado pelo Samu assegura uma resposta mais ágil ao atendimento de urgência e emergência à população. “É um serviço que tem como finalidade salvar mais vidas, facilitar e diminuir o tempo de atendimento, além de melhorar o acesso dos alagoanos a uma assistência humanizada”, pontuou a gestora.
E-mail: redacao@f5alagoas.com.br
Telefone: (82) 99699-6308