Estudos apontam que até 60% das transmissões do novo coronavírus (Sars-CoV-2) ocorrem por meio pessoas sem sintomas da doença Covid-19 – trata-se dos chamados casos assintomáticos. Esses dados têm sido obtidos em pesquisas científicas recentes e são endossados por especialistas ouvidos pelo G1.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem o registro de 19 pesquisas sobre transmissões de pessoas assintomáticas e pré-sintomáticas (que não manifestaram sintomas na hora da transmissão, mas desenvolveram posteriormente).
Os resultados apontam que:
A OMS diz que o "risco de contrair Covid-19 de alguém sem sintomas é muito baixo", mas que está "avaliando pesquisas em andamento sobre o período de transmissão do Covid-19 e continuará a compartilhar descobertas atualizadas".
Outros materiais estão sendo produzidos, mas ainda estão nas fases de pré-print (quando o artigo ainda não passou pela revisão por pares).
Cuidados
As evidências apresentadas mudaram as orientações de prevenção do vírus.
A transmissão assintomática reforça o isolamento social como maneira mais eficaz de barrar a transmissão e faz especialistas revisarem as orientações sobre o uso de máscaras, que está recomendado, segundo a OMS, apenas para pessoas com sintomas ou profissionais da saúde.
"O infectado que não tem sintomas não toma os cuidados necessários com secreções e em momentos de tosse e espirro, porque ele não sabe que está doente e isso aumenta o risco potencial de infecção", diz professor Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse na quarta-feira (1º) que máscaras de proteção podem servir como barreira eficiente para a população em geral contra o coronavírus. A sugestão de Mandetta tem como foco o uso de máscaras alternativas, preservando as cirúrgicas e as N95 para os profissionais de saúde.
Por que ocorre transmissão antes dos sintomas?
De acordo com o epidemiologista André Ribas, o vírus consegue se replicar na mucosa nasal e bucal (fora da mucosa respiratória) e por isso está presente na saliva e nas secreções antes que o infectado passe a manifestar os sintomas. "A mucosa da via respiratória alta [nariz] expressa o gene do vírus, por isso ele se replica bastante nessa região", disse.
Um estudo de pesquisadores alemães publicado na revista "Nature" nesta quarta analisou nove casos, provou a replicação do vírus nos canais respiratórios superiores e constatou uma alta dispersão do vírus nas primeiras semanas.
O professor Vecina Neto explica que isso se deve à concentração do vírus na orofaringe (região da garganta).
"Conforme o paciente avança para estágios mais graves, o vírus entra na árvore brônquica e fica mais distante dos canais de saída", diz Vecina Neto.
O comportamento é diferente do registrado pela Síndrome Respiratória Aguda Grave, causada pelo coronavírus Sars-CoV-1, que causou um surto na China entre 2002 e 2003. Segundo Vecina Neto, esse vírus (da mesma família do novo coronavírus) se replicava no pulmão.
"A transmissão do Sars antigo só começava depois que o pulmão estava afetado. Portanto só transmitia em período sintomático. Por isso, foi mais fácil ser controlado", explica.
O epidemiologista André Ribas afirma que não é apenas o novo coronavírus que tem uma característica diferente, já que o mesmo ocorre com os vírus da dengue e da Influenza.
"Mas, com a dengue a Influenza, a transmissão pré-sintomática é muito baixa – seu pico ocorre no período sintomático. O problema é que a parte pré-sintomática de transmissão do novo coronavírus é muito alta, como têm apontado as pesquisas”, afirma.
Segundo o médico, como é impossível precisar a proporção de assintomáticos em toda a população, a porcentagem nas transmissões pode ser ainda maior. "A transmissão assintomática só é rastreável quando tem um contexto para que se saiba sua origem."
FONTE: G1
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