A Ceia do Senhor, celebrada entre Jesus de Nazaré e os seus discípulos (cf. Mt 26, 26-29; Mc 14, 22-25; Lc 22, 14-20), não antecede uma festa (cf. Lc 22, 15), mas uma grande missão de comunhão entre o Deus revelado pelo nazareno, o próprio Jesus, seus discípulos e os cristãos e as cristãs que compõem a grande comunidade eclesial de ontem e de hoje.
Conforme citado acima, o evangelista Lucas registra o que disse Jesus aos seus: “Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco antes de sofrer” (Lc 22, 15). Portanto, segundo Lucas, Jesus antecipa aos seus companheiros por meio das palavras o sofrimento que será imposto ao seu corpo. Durante aquela ceia, o pão e o vinho se tornam uma representação dos eventos da paixão de Jesus Cristo que oferece o seu próprio corpo com o qual assumiu a sua missão até as últimas consequências.
O Corpo de Cristo não foi tão somente uma peça anatômica, formada por órgãos que interagiam entre si a fim de manter o equilíbrio de suas funções vitais. O Corpo de Cristo foi um sacramento, isto é, um juramento de fidelidade a Deus e ao Reino de Deus. Esta fidelidade foi uma companheira inseparável de Jesus ao longo da sua vida e encontrou em seu corpo a forma que daria a concretude da sua manifestação.
O Corpo de Cristo também foi um companheiro que o fez percorrer os caminhos da sua vida ao encontro de outras vidas, testemunhando que o Reino de Deus-Pai-Mãe havia chegado aos seus filhos e filhas, especialmente àqueles e àquelas que possuíam seus corpos castigados por tanto sofrimento. O Corpo de Cristo não se reduzia a si mesmo, mas se ampliava para além de si, sobretudo, concretizava-se no vínculo que estabelecia com os corpos dos que se aproximavam dele. Jesus foi um homem de relação, um sacramento entre o divino e o humano, entre Deus, o homem e a mulher.
Tantas foram as relações que o Corpo de Cristo estabeleceu com outros corpos que nos faz perceber que a experiência cristã, que se dá com e a partir de Jesus, é uma experiência corporal. Não é uma experiência de distância, mas de proximidade; não é uma experiência de desencontros, mas de encontros. O Cristianismo é o movimento dos corpos de cristãos e de cristãs que manifestam a fidelidade a Deus e ao Reino cujo sentido está muito bem localizado no encontro, na relação e na comunhão entre os corpos.
A dimensão sacramental do Corpo de Cristo, a forma através da qual o divino se manifesta na história possui os seus sentidos. Em linguagem teológica, apresentamos esses sentidos em três formas: evocativa, autoimplicativa e performativa. O sentido em sua forma evocativa está associado aos fatos para que o divino seja apresentado; a forma autoimplicativa tem o sentido de envolver o ser humano com aquilo que dele está próximo a fim de promover o que induz à transformação (eis o sentido performativo).
Portanto, o Corpo de Cristo é um corpo que evoca, autoimplica e performa o ser humano. Dito com outras palavras, o Corpo de Cristo é um corpo que apresenta o divino aos homens e às mulheres, os envolve e os impulsiona para a transformação que começa a partir deles e se transfigura em tudo e em todos com os quais se encontram e se relacionam para estabelecer uma comunhão de fidelidade a Deus e ao Reino de Deus: o Reino de comensalidade, amor, justiça e paz. O Reino dos corpos humanos como sacramentos do divino.
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