O evangelista Lucas, no capítulo 24, versículos de 41 a 43, menciona a aparição de Jesus Cristo aos seus discípulos após o evento da ressurreição dizendo-lhes: “‘Tendes o que comer?’. Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado. Tomou-o, então, e comeu-o diante deles”, mostrando a fome de um corpo ressurreto.
Por sua vez, o evangelista João, no capítulo 21, registra a aparição do mesmo Jesus Cristo aos seus discípulos, dessa vez às margens do lago de Tiberíades. No versículo 9 daquele capítulo, João afirma que os discípulos “quando saltaram em terra, viram brasas acesas, tendo por cima peixe e pão”. Nos versículos 12 e 13, o Cristo ressurreto diz aos seus discípulos: “vinde comer!”. Em seguida, “Jesus aproxima-se, toma o pão e o distribui entre eles; e faz o mesmo com o peixe”. Depois de comerem, Jesus fala sobre a necessidade de apascentar suas ovelhas através do amor e da amizade com ele próprio (Jo 21, 15-17).
Após o grandioso evento da ressurreição, mesmo transfigurado para além dos limites do espaço e do tempo, bem como para além dos limites corporais, eis o corpo de Cristo que tem fome, toma os alimentos e os come com os seus. Como entender isso? Como compreender um corpo ressurreto que tem fome e come com os seus?
Ao se aproximar do ser humano e assumir sua humanidade, o Deus revelado em Jesus o faz assumir as necessidades vitais de tal modo que elas passam a ser as suas próprias. Esse mesmo Deus se ocupa com as necessidades da vida do ser humano e com a satisfação dessas, impulsionando-nos a solucionar as privações que temos quando somos acometidos pela fome. A fome é um fenômeno cujo impacto acarreta o adoecimento e a morte. Morrer de fome, morrer por causa da fome é algo terrível, particularmente em uma sociedade cuja produção de alimentos excede as necessidades do ser humano, ou seja, é mais do que suficiente para satisfazê-las. Todavia, por que existem homens e mulheres que passam fome e que morrem em decorrência da fome?
Destacamos que a mesma sociedade que produz muitos alimentos é a mesma que produz condições sociais diferentes para acessá-los. Não há uma distribuição equânime na produção de alimentos, assim como não há essa equanimidade (isto é, oferecer mais a quem precisa de mais) na distribuição de outros recursos. Assim, nesta sociedade se apresentam os que têm mais, os que têm menos e os que não têm.
O Deus revelado por Jesus Cristo e o próprio Cristo ressurreto, que se ocupam com as necessidades do ser humano, estão localizados nos que têm menos e nos que não têm. Sim, Deus e Jesus Cristo assumem a condição dos que sofrem privações, se ocupam com as necessidades dos empobrecidos de tal maneira que a fome do Cristo ressurreto está na fome dos pobres deste mundo, fome esta que é sentida por Deus e pelo próprio Cristo ressurreto: “pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me. Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando foi que te vemos com fome e te alimentamos, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vemos forasteiro e te recolhemos ou nu e te vestimos? Quando foi que te vemos doente ou preso e fomos te ver?’ Ao que lhes responderá o rei: ‘Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes’” (Mt 25, 35-40).
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