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O presidente Michel Temer se safará amanhã na Câmara da segunda denúncia contra ele. Em Brasília, a aposta é quantos votos terá a menos que os 263 obtidos na votação da primeira. Ninguém crê que sejam menos que os 171 suficientes para livrá-lo.
A conta que Temer deve fazer, a esta altura, é outra. Livre da denúncia, ele terá os 308 necessários para aprovar a Reforma da Previdência, qualquer que sejam os termos dessa reforma? Improvável. Até mesmo uma reforma depenada, desossada e desidratada, que sirva apenas para render aplausos protocolares nos cadernos de economia, tem pouca chance de passar pelo Congresso.
Prova disso foi o relatório insano, bizarro e prolixo apresentado à CPI da Previdência ontem pelo senador Hélio José (Pros-GO). "Inexiste déficit da Previdência Social ou da Seguridade Social", diz o relatório.
O mero fato de senadores da República levarem a sério os argumentos corporativos falaciosos e abstrusos usados para tentar desqualificar o cenário catastrófico que se avizinha nas contas previdenciárias revela a que ponto chegamos. Para quem (ainda) tem (alguma) paciência, desmontei os principais neste post – embora a criatividade e o pensamento mágico dos arautos previdenciários não se restrinjam a eles.
O relatório da CPI da Previdência é a prova mais eloquente de que nosso problema como nação não se restringe a sermos reféns de uma classe política corrupta, ciosa de livrar Temer, Aécio Neves e qualquer outro flagrado com a boca na botija, ops, no gravador. Pior ainda é estarmos nas mãos de incompetentes, analfabetos numéricos, incapazes de antever nas contas públicas o desastre óbvio anunciado para as próximas gerações.
Para o relator da CPI da Previdência, tudo se resolve revogando a emenda constitucional da Desvinculação de Recursos da União (DRU), eliminando a sonegação fiscal e as fraudes, acabando com a informalidade no mercado de trabalho, com as desonerações e isenções fiscais, com o refinanciamento das dívidas – e retirando dos cálculos aqueles incômodos que geram o déficit, como aposentadorias do funcionalismo ou dos militares.
Mas para que parar por aí, não é mesmo? Com a mesma técnica, seria possível decretar o fim dos assassinatos e dos estupros, eliminar por meio de uma emenda constitucional o vírus da aids ou a pedofilia, erradicar de uma penada o câncer e os ataques cardíacos, as pragas agrícolas e o terrorismo internacional. Que tal tentar acabar também com as armas atômicas da Coreia do Norte ou com o programa nuclear do Irã? Tudo no papel fica fácil.
A realidade, infelizmente, é teimosa e insiste em desmentir o reino da fantasia criado pelos constituintes em 1988, o mundo mágico em que todos têm direito a tudo e ninguém precisa trabalhar para pagar nada. O relatório sustenta, com toda seriedade, ser possível manter o universo onírico de sindicatos, associações de classes e especialistas de ocasião convocados a desmentir as contas do governo. Mas os números são crueis – e não somem.
Por mais que os interessados em manter privilégios neguem, esses números já se fazem sentir. A cada ano que passa, a situação ficará mais e mais grave. É uma irresponsabilidade sem tamanho acreditar que será possível manter as benesses do nosso Estado de Bem-Estar Social sem ter como pagá-las. O preço será a falência do Estado, o colapso da economia, o empenho do futuro de nossos filhos e netos em troca de… em troca de que mesmo?
Ah, claro! Assim que estiver rejeitada a denúncia contra Temer, o velho balcão de negócios do Congresso operará com um só objetivo: as urnas em 2018. O relatório da CPI é apenas um recado àqueles que ainda acreditam no resgate de um programa mínimo de reformas neste governo. Acabou, minha gente. Podem contar às próximas gerações que terão de se virar por conta própria.
Fonte: G1
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