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26/10/2016 21:30
Brasil
Após corte de verba, aluno de Medicina faz vaquinha online para ir a Harvard
Pablo lançou campanha online para custear despesas em Harvard / Reprodução/ Facebook
R7

Com apenas 22 anos, o estudante Pablo Andrade está acostumado a correr atrás de seus sonhos com bastante empenho. Mesmo diante de dificuldades — principalmente as financeiras —, ele não se dá por vencido e arranja jeitos de fazer acontecer. Agora, ele está prestes a encarar mais um grande desafio: arrecadar R$ 31 mil em três meses para estudar na Harvard University, umas das instituições de ensino mais prestigiadas do mundo.

 

Mas vamos contar esta história desde o início. Nascido em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, o então adolescente se destacava no colégio durante o ensino fundamental, que ele frequentava numa escola pública do bairro. Os professores resolveram ajudá-lo com atividades extras, como em olímpiadas de matemática, para que ele conseguisse entrar numa escola com o ensino “mais forte”.

 

— Os professores começaram a investir em mim. Ai, eu fiz a prova e consegui entrar no Colégio Pedro II, que tinha aberto uma unidade na minha cidade.

 

No último ano do ensino médio, Pablo entrou num cursinho vestibular e assistia às aulas do período noturno. Ele tentou Medicina em algumas faculdades, mas não conseguiu passar. No ano seguinte, o rapaz ganhou uma bolsa integral no cursinho e passou a se dedicar todos os dias para os estudos. O resultado foi melhor do que esperado: Pablo passou em sete vestibulares.

 

— Eu passei em todos que prestei: Fuvest [organizadora do vestibular da USP], Unicamp, UFRJ, UERJ, UFPE, Unifap [Federal do Amapá], UNIR [Federal de Rondônia], PUC Campinas, Santa de São Paulo e outras duas faculdades particulares da minha cidade.

 

Como conseguiu uma nota alta no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), o estudante também ganhou bolsa na Universidade de Salamanca, na Espanha. Mesmo com tantas opções, ele não titubeou na decisão.

 

— Eu escolhi a USP porque era um sonho distante. Eu sabia que era difícil entrar por ser bastante concorrida. Prestei querendo, mas sem grandes expectativas. Aí, passei! Além disso, um dos motivos mais importantes foi justamente o intercâmbio, que é tradicional na faculdade.

 

Mudança para SP

 

Para estudar na USP, Pablo precisava se mudar para São Paulo. Morando com os três irmãos e com a mãe, que está desempregada, a família não tinha condições de sustentar o estudante em outro Estado. Desta forma, ele fez a primeira “vaquinha” para realizar o sonho.

 

— Na época, não tinha esse recurso da internet. Então, eu fui bater na porta de conhecidos e desconhecidos para pedir ajuda. Os professores do cursinho também fizeram um aulão e investiram todo o dinheiro arrecado para eu vir para São Paulo.

 


O dinheiro serviu para Pablo se manter na cidade até conseguiu vaga no alojamento para alunos de baixa renda da universidade. Hoje, ele divide um casarão com mais 53 pessoas e recebe uma bolsa de R$ 400 por atividades prestadas na faculdade, como monitoria.

 

Intercâmbio x Corte de gastos

 

Assim que teve oportunidade, Pablo se inscreveu no programa de intercâmbio. Todo ano, três professores de Harvard vêm ao Brasil selecionar oito estudantes do curso de Medicina. A primeira parte da seleção consiste numa espécie de prova. Depois, os selecionados fazem entrevistas presenciais. Além disso, os alunos precisam já estar envolvidos em pesquisas dentro da universidade. E todo o processo é feito em inglês para testar a fluência no idioma, que Pablo adquiriu estudando por conta própria.

 

— Em sempre estudei [inglês] sozinho. Lia livros em inglês e assistia a séries sem legenda, desde o ensino médio.

 

Até o ano passado, o intercâmbio era bancado pelo programa Ciências Sem Fronteiras do Governo Federal. No entanto, em julho o programa sofreu um corte. O intercâmbio foi mantido, mas agora os alunos precisam arcar com as despesas de alimentação e hospedagem com recursos próprios.

 

Para morar um ano nos Estados Unidos, Pablo precisa arrecadar R$ 31 mil até dezembro e tirar o visto de estudante. Sem condições financeiras, o estudante lançou a campanha "Pablo em Harvard", por meio de crowdfunding, que é quando pessoas se juntam num financiamento coletivo. Com pouco mais de 50 dias de campanha, Pablo conseguiu pouco mais de R$ 8 mil e tenta conter a expectativa.

 

— Eu estou tentando manter o pé no chão, mas acredito que vai dar certo.

 

A campanha de Pablo é flexível, ou seja, mesmo se ele não conseguir o valor integral poderá usar a quantia arrecadada. Em outra modalidade de crowdfunding, se o objetivo não é atingido, o dinheiro é devolvido para os doadores.

 

Especialização e vida em Harvard

 

Pablo ainda não sabe qual especialização irá fazer em Medicina, porém, diz preferir áreas clínicas, ao invés de cirurgia.

 

— Ao longo da faculdade, eu vou me decidir, mas já gosto bastante de ginecologia, obstetrícia e oncologia.

 

Já os planos para Harvard estão bem definidos.

 

— O intercâmbio é mais voltado para pesquisa. Só que eu vou poder participar de outras atividades também e ser reconhecido como aluno de lá. Dá para aproveitar bastante.

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