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19/06/2020 19:52
Brasil
Brasil tem mais de 1 milhão de casos confirmados de coronavírus
Norte apresenta tendência decrescente, mas Centro-Oeste está com curva em ascensão. Vírus está se espalhando no interior do país e dá sinais de 'platô' em metrópoles do Sudeste. Especialistas avaliam que é cedo para comemorar. Levantamento de consórcio de

O Brasil chegou a 1 milhão de casos de coronavírus na tarde desta sexta-feira (19), mostra um boletim extra do levantamento feito pelo consórcio de veículos de imprensa a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde.


Veja os dados atualizados às 14h no boletim extra desta sexta:


48.427 mortes


1.009.699 casos confirmados


Às 20h desta quinta-feira (18), o consórcio havia divulgado o 11º balanço, com os dados mais atualizados das secretarias estaduais naquele momento, indicando 47.869 mortes – sendo 1.204 em 24 horas – e 983.359 casos confirmados.


Desde então, AC, CE, DF, GO, MT, MS, MG, PE, RN, RR, SP e TO divulgaram novos dados.


Os dados foram obtidos após uma parceria inédita entre G1, O Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL, que passaram a trabalhar de forma colaborativa para reunir as informações necessárias nos 26 estados e no Distrito Federal.


O objetivo é que os brasileiros possam saber como está a evolução e o total de óbitos provocados pela Covid-19, além dos números consolidados de casos testados e com resultado positivo para o novo coronavírus.

 

Avanço mesmo com subnotificação

 

Embora elevados, os números de casos e de mortes estão subnotificados. O Brasil ainda faz, como apontou um especialista ouvido pelo G1, "brutalmente" menos testes para detectar a doença do que deveria: são tão poucos RT- PCR (exames laboratoriais ideais para diagnosticar a Covid-19), que o número de casos confirmados muitas vezes é secundário para cientistas que analisam a evolução da pandemia.

 

"O Brasil está testando brutalmente menos do que deveria. Na melhor das hipóteses, 20 vezes menos do que é considerado adequado", afirmou ao G1 Daniel Lahr, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP).


O G1 ouviu especialistas de cada uma das cinco regiões do país e traçou um panorama da situação que o Brasil enfrenta às vésperas do inverno, que começa oficialmente neste sábado (20). Veja abaixo:

 

Norte

 

 

Resumo da situação:

 

região com a menor quantidade de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e que sofre com a alta taxa de ocupação desses leitos, o Norte passou a apresentar curva descendente de notificações desde 10 de junho;


apesar dessa tendência de queda, especialistas dizem que é cedo para comemorar e que não se pode considerar que pandemia já passou;

 

o retorno de atividades econômicas leva pessoas a ruas e shoppings, por exemplo, o que pode levar a um retrocesso, com eventual novo aumento do número de casos em poucas semanas;


a grande presença indígena em toda a região Amazônica influencia, já que o fato de os grupos viverem em comunidade facilita a transmissão.

 

Com a curva descendente de notificações desde 10 de junho, a média de registros diários na região Norte ficou em 5.611 casos, sendo que os municípios mais afetados têm perto de 250 confirmações por dia. São eles: Porto Velho (RO), com 295 casos; Parauapebas (PA), com 269; Macapá (AP), com 257; Manaus (AM), com 236; e Belém (PA), com 198.

 

Pedro Vasconcelos, professor da Universidade do Estado do Pará (Uepa) e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical diz que as movimentações recentes para abertura do comércio têm feito a população "andar onde quer e como quer".

 

"Não dá ainda para afirmar que passou a pandemia. Há uma tendência de queda, mas não quer dizer que vá cair para sempre" , afirmou Pedro Vasconcelos, professor da Uepa e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.


"Como os estágios de retorno de atividades econômicas estão favorecendo a presença das pessoas nas ruas, nos shoppings e em outros locais, isso pode trazer uma regressão da situação daqui a uma, duas semanas, com um aumento significativo de novos casos."

 

Marília Brasil, pesquisadora do núcleo de medicina tropical da Universidade Federal do Pará (UFPA) e infectologista especializada em saúde coletiva, explica que Belém, por exemplo, apresenta uma taxa de transmissão menor. Mas, no interior, observa-se uma elevação da taxa de contaminação.


"O Pará é muito irregular, ele é muito grande. Na capital, estamos mantendo uma taxa de transmissão abaixo de 1, mas na região metropolitana fica em 1,1. E, mais próximo do interior, nós temos 1,5. Tem áreas no Pará em que a taxa de reprodução está muito alta", diz a médica.


De acordo com ela, a taxa de transmissão média pode mostrar uma tendência de queda ou de estabilização. Ela chama a atenção, no entanto, para áreas em que as taxas ainda estão em ascensão – caso de Santarém –, que precisam de um aumento das restrições.


Pedro Vasconcelos cita também a grande presença indígena na região Amazônica e facilidade de transmissão entre esses grupos, uma vez que eles vivem em comunidade. Há mais de 6,3 mil indígenas contaminados no país, com foco no estado do Amazonas.


"Podemos ter um o background genético. Vimos casos de pessoas de uma mesma família, e várias morrerem. É preciso estudar isso, o que demanda tempo. Não é uma coisa para fazer da noite para o dia. Precisamos de estudos virológicos e também da área da genética", disse.

 

"Mas eu acho que há uma questão da origem constitucional genética no Norte e que a gente ainda não sabe. Aqui, diferente de outras regiões, o componente indígena no sangue das pessoas é muito forte."


Nordeste

 


Resumo da situação:

 

os números de Covid-19 continuam altos na região – e não há tendência de melhora –, afirma o professor de epidemiologia computacional Jones Albuquerque, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE);


há uma tendência de interiorização do coronavírus, provocando aumento do número de casos em municípios sem infraestrutura, levando a uma sobrecarga nas capitais;


com a chegada da estação em que há maior incidência de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Nordeste, o temor é que a população se torne mais vulnerável ao coronavírus;


o Nordeste tem um risco adicional nesta época do ano – as arboviroses (dengue, zika, e chikungunya) –, e um especialista alerta que ainda não se sabe o que pode ocorrer com uma pessoa que se contamine, ao mesmo tempo, com Covidd-19 e alguma dessas doenças.

 

O professor Jones Albuquerque explica que todos os estados aparecem em vermelho nos gráficos usados no laboratório da UFPE. As tabelas levam em consideração o número de infectados, a taxa de contágio e o número de casos para cada 100 mil habitantes.

 

"Todos os estados estão ruins. Uns ruins, outros muito ruins. Pernambuco, até umas duas semanas atrás, vinha num cenário bom em relação ao Brasil, mas retrocedeu. Piauí está terrível, Sergipe é o pior de todos", diz o Albuquerque. De acordo com ele, há uma tendência de interiorização na região, assim como no resto do país.

 

José Luiz de Lima Filho, médico e professor também nas universidades federais de Pernambuco, afirma: "As cidades do interior não têm a mesma infraestrutura. Então, os casos acabam vindo para a capital. Havia a esperança de que, no interior, as pessoas ficassem mais espaçadas [distantes umas das outras], mas não é isso que está acontecendo".

 

Lima Filho explica que Recife, por exemplo, conseguiu ampliar o número de leitos de UTI, assim como o Ceará. Segundo ele, no entanto, o mesmo não ocorreu em outras cidades, como Natal.

 

O médico também sinaliza que os testes sorológicos, usados em vários municípios do país para detectar anticorpos para o vírus, podem distorcer as estatísticas, por causa da grande quantidade de falsos negativos.

 

"Eles [os testes sorológicos] podem mostrar menos casos. Então, você imagina que está melhor. Mas o número de óbitos vai ser o mesmo. A situação não está sob controle no Nordeste", enfatiza o médico.

 

Com relação ao risco que as arboviroses (dengue, zika e chikungunya) representa para o Nordeste, o professor Jones Albuquerque, da UFPE e da UFRPE, afirma:

 

"Esses estados têm dengue como arbovirose séria. Vamos supor que as pessoas fiquem mais em casa – o mosquito consegue picar mais gente ao mesmo tempo. Ainda não há dados, mas vai vir uma onda de arboviroses. Vai ser algo nunca visto na história mundial".

 

Lima Filho ressalta também que não se sabe o que pode acontecer caso as pessoas sejam infectadas, ao mesmo tempo, por Covid-19 e alguma arbovirose.

 

Ele também avalia que a retomada das atividades na região é precipitada: "A saúde precisa entender a economia, mas a economia precisa entender a saúde. Se as pessoas começarem a morrer, a economia vai perder muito mais".

 

Ricardo Lustosa, professor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), explica que, com a chegada da estação em que há maior incidência de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Nordeste, o temor é que a população se torne mais vulnerável ao coronavírus.

 

"É um período que deve ser visto com preocupação, porque temos uma parcela maior da população que tem o sistema respiratório fragilizado e pode ficar mais suscetível" , explica Ricardo Lustosa, professor da UFBA.

 

"Se, concomitante à Covid, o cidadão estiver com sistema imune e respiratório em déficit, por SRAG, o corpo terá mais desafios, maior dificuldade de combater o vírus, podendo ampliar a procura [por serviços médicos] e a necessidade de internações e [provocar] sobrecarga do sistema de saúde, bem como das UTIs", descreve.

 

Centro-Oeste

 

 

Resumo da situação:

 

o Centro-Oeste está com a curva de casos em ascensão – em 14 de junho, o número de casos confirmados foi em 1.630; quatro dias depois, foram 2.482;

 

José David Urbaéz, diretor-científico da Sociedade Brasileira de Infectologia no Distrito Federal (SBI-DF), diz que o quadro está se agravando agora porque ocorreu um relaxamento nas normas de isolamento social no início de junho;

 

a alta circulação de voos para a capital federal influenciou o registro de uma taxa maior de infecção em Brasília –no estágio atual, no entanto, é esperado que ocorra a interiorização;

 

em Brasília, o vírus avança pelas áreas periféricas, que vêm registrando tem mais casos e mais óbitos.

 

Brasília é a cidade mais afetada, com 1.145 confirmações em média. Depois, vêm Goiânia (225), Rio Verde (236) Dourados (89) e Cuiabá (79).


De acordo com Marcelo Gomes, do monitoramento do dados da Fundação Oswaldo Cruz, o Infogripe, a região tem um ciclo das doenças respiratórias diferente de outros lugares do Brasil.


"Ela acaba ficando no meio do caminho. Quando tem um surto forte no começo do ano na regional Norte, isso muitas vezes também acaba fazendo com que o padrão da regional Centro também seja mais cedo", explica Gomes.

 

"Quando a gente tem o volume mais forte no Sul, o pico é mais para o meio do ano" , diz Marcelo Gomes, da Fiocruz, coordenador do Infogripe.

 

Quando ao recente aumento de casos após o relaxamento das ações de distanciamento social no início de junho, José David Urbaéz, da SBI-DF, afirma:

 

“Coincidentemente, Brasília e Goiânia tiveram uma política de isolamento social bem precoce. Brasília fechou as escolas em março e Goiânia teve uma política de fechamento logo na primeira semana dos casos".

 

Ele avalia que “desde o início de junho, algumas coisas que foram abertas em toda a região Centro-Oeste". "Goiás abriu um pouco antes, na segunda quinzena de maio."

 

O infectologista alerta para o avanço do coronavírus na periferia da capital.


“E aqui em Brasília já temos o deslocamento dos casos para as áreas mais periféricas, como em São Paulo. Inicialmente, você tinha muitos casos no plano piloto. Agora, chegou a Ceilândia, Estrutural, Samambaia, que são as regiões da cidade que tem mais casos e mais óbitos", explica o diretor-científico da SBI-DF.


"O vírus entra pelas áreas de classe alta, porque a nossa epidemia foi importada, e enquanto tem o isolamento horizontal você interrompe. Mas a massa que se movimenta para as regiões centrais continua transmitindo."

 

Sudeste

 

 

Resumo da situação:

 

desde 16 de junho, a região está em um aparente platô – uma estabilização da curva, sem uma queda ou uma alta nos registros da doença. A média dos últimos sete dias está em 7.887 casos confirmados;


a cidade de São Paulo continua com a média mais elevada por dia (2.208), seguida pelo Rio (891) – os outros 3 municípios mais afetados têm perto de 184 confirmações diárias: Santos (202), Vila Velha (180) e Vitória (171);


no estado de São Paulo, há dois fenômenos simultâneos – o espalhamento para o interior e o relaxamento das ações de distanciamento social, que deve aumentar o número de casos, na avaliação de Paulo Lotufo, epidemiologista da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP);


as séries históricas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicam que SP vive agora a época de maior circulação dos vírus respiratórios, que deve durar até o início de agosto; mas esse padrão não necessariamente vai se repetir para o Sars-CoV-2.

 

O Sudeste registrou os primeiros casos da pandemia no Brasil em março deste ano, mais especificamente na cidade de São Paulo.

 

Paulo Lotufo, epidemiologista da Faculdade de Medicina da USP, avalia que é difícil fazer previsões para o estado de São Paulo. Na capital, por exemplo, há de fato esta estabilização (platô), mas a abertura econômica deve facilitar o aumento de casos – mesma previsão feita pelos especialistas também para a região Norte.

 

"O platô existe, e a tendência em São Paulo seria de diminuir, mas não é possível afirmar nada. Uma questão que existe é que a capital é muito dinâmica. A quantidade de sacoleiros que vêm comprar coisas no Brás, na 25 de março, é imensa – e eles são de outros lugares", lembra.

 

Outro fator que torna as próximas semanas incertas é a cobertura vacinal para os vírus Influenza, assim como a efetividade da vacina, que muda todo ano, explica o epidemiologista.

 

Sobre a possibilidade de o padrão de circulação do Sars-CoV-2 ser semelhante a de outros vírus respiratórios, que registram maior incidência até o começo de agosto, Lotufo afirma:

 

"Estamos conhecendo o coronavírus agora, não sabemos o comportamento dele. O Ministério da Saúde falava como se fosse a mesma circulação da gripe, e não é exatamente isso".

 

Sul

 

 

Resumo da situação:

 

com as medidas de restrição adotadas em março, a população do Sul demorou a ser exposta ao vírus. Mas, depois da primeiras aberturas, a partir da segunda quinzena de maio, os casos de coronavírus aumentaram, explica a infectologista Lessandra Michelin, professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS);


os inquéritos sorológicos (pesquisas feitas para descobrir quem foi exposto ao vírus conforme os anticorpos produzidos pelo corpo) já atestam o crescimento do número de casos na região.


a preocupação é que ocorra, agora, uma possível sobrecarga do sistema de saúde, principalmente o público.

 

Lessandra Michelin, da UCS, afirma que ainda há dúvidas sobre o avanço do coronavírus nos próximos meses na região Sul.

 

"Há duas correntes – uma achando que passou o pico de SRAG e outra que estima que isso ainda possa acontecer. O nosso momento de viroses respiratórias é agora, independentemente do coronavírus. Já é sazonal" , afirma a médica.

 

Segundo as séries históricas da Fiocruz, a época de maior incidência de SRAG na região Sul segue o mesmo padrão de São Paulo e Minas Gerais: começa no fim de maio e termina no início de agosto.


Quanto a uma possível sobrecarga do sistema de saúde, a infectologista diz:


"Com algumas exceções, é principalmente o sistema público que está mais sobrecarregado. O sistema de saúde suplementar tem notado um aumento, mas não é tão significativo. A gente tem receio que o SUS seja muito sobrecarregado".


"Se aumentar o número de casos e sobrecarregar o sistema de saúde, a gente inevitavelmente vai para um lockdown de novo, e a gente não quer isso."

 

Fonte: G1 Globo

 

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