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A Polícia Civil vai investigar uma ocorrência registrada como morte suspeita de um homem que deu entrada em um hospital com uma fratura no joelho e saiu de lá morto, informou a Secretaria da Segurança Pública (SSP). O caso ocorreu no Hospital Municipal Tide Setúbal, em São Miguel Paulista, na Zona Leste de São Paulo.
A declaração de óbito utilizada pela família para conseguir a liberação do corpo indica que Valdir Cardilo morreu devido a uma infecção generalizada. A Secretaria Municipal da Saúde informou que ele morreu após duas paradas cardiorrespiratórias.
Valdir, de 51 anos, escorregou no banheiro de casa e machucou o joelho na noite do dia 24 de setembro, de acordo com sua sobrinha Roberta Cardilo. “Foi uma queda leve, sem fratura exposta. Ele me pediu ajuda e eu o levei para a cama. Ele não reclamava de dor, mas no dia seguinte o joelho estava inchado, então chamei o Samu para leva-lo ao hospital de ambulância”, contou.
No dia seguinte, domingo, dia 25, Valdir estava consciente quando foi levado ao hospital e até bem humorado, brincando, de acordo com Roberta, que divide a casa com o tio e uma prima. Ela contou que o médico do hospital apontou para a necessidade de uma cirurgia.
A sobrinha de Valdir diz não ter recebido nenhum documento ou prontuário do hospital para acompanhamento. Ela disse ainda que os funcionários do hospital se comprometeram a entrar em contato após a realização de exames para comunicar o encaminhamento do paciente para o centro cirúrgico, mas não entraram em contato.
Após este primeiro atendimento, Roberta disse que familiares e amigos tiveram dificuldades em ter informações sobre Valdir. ”Nos dias 27 e 28, um amigo da família esteve no hospital no horário de visitas, entre 14h e 15h30, mas não conseguiu vê-lo. Os funcionários pareciam esconder informações. Diziam que ele não estava lá, ou que não havia ninguém com este nome, ou que ele estava fazendo exames, até que soube de seu falecimento no dia 29”, afirmou.
Valdir trabalhava como motoboy, mas estava desempregado havia dois meses por conta de um AVC. Após tomar conhecimento da morte do tio por meio de uma assistente social, Roberta começou a proceder para a liberação do corpo.
“Fiz um boletim de ocorrência para conseguir a liberação. Ele foi liberado de um jeito que só por misericórdia – boca e olhos abertos, pescoço torto. Não sei o que fizeram com ele no hospital”, conta Roberta.
Após desembolsar R$ 500, a família conseguiu realizar o enterro de Valdir no Cemitério da Vila Carmosina, em Itaquera, na Zona Leste. “Eu e minha prima cuidávamos dele. Era uma pessoa boa, nos dávamos bem”, lamenta.
Laudo
Nesta quinta-feira (6), a família de Valdir continuava sem entender por que ele deu entrada em um hospital com o joelho fraturado, consciente e brincando, e terminou no IML, e afirma que não conseguia respostas claras.
A Secretaria da Saúde informou em nota que o paciente sofreu a queda no banheiro porque estava alcoolizado, que sofreu AVC havia quatro meses, que foi encaminhado para o Hospital do Monumento para cirurgia no joelho, que retornou ao Tide Setúbal com sequelas de abstinência alcoólica e encaminhado para avaliação psiquiátrica. No mesmo dia, teria sofrido paradas cardíacas e morrido. Contudo, a Secretaria não informou qual a relação entre a fratura, o AVC e o alcoolismo.
Questionado se um paciente alcoólatra e vítima de AVC pode passar normalmente por uma cirurgia, o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho, o doutor Marcus Vinicius Luzo, explicou que depende do tipo de fratura e do quadro clínico do paciente.
“Seria leviano da minha parte tentar explicar este caso específico com poucas informações. Posso dizer que realmente medicina não é matemática, e às vezes um paciente com uma pequena fratura pode ter uma embolia, por exemplo. Não é frequente, mas pode acontecer”, disse.
Sobre a relação do alcoolismo e do AVC com a cirurgia, o especialista disse que também depende do grau de comprometimento.
“Em princípio, não há contraindicação para operação em pacientes com este perfil, mas depende do grau de alcoolismo e do tamanho do AVC", explica Luzo. “É difícil saber sem acesso a informações sobre as condições do paciente, sobre a fratura, sobre as complicações do caso e se havia incidência de outras infecções”, continua.
Sobre o alcoolismo, Roberta confirmou que o tio bebia, mas disse que ele foi internado para exames, que apontaram boas condições de saúde. “Tiraram eletrocardiograma e ele estava bem. O que eu sei é que no laudo que consegui consta morte por infecção”, disse Roberta.
“Além disso, mesmo sendo alcoólatra, ele merecia ser tratado com respeito, mas pelo que vi no necrotério, ele sofreu. Doeu a forma como ele foi enterrado. Boca e olhos abertos, sem algodão. Um descaso. Por que não me deram nada, um exame que ele fez?”, questiona.
Em nota, a Polícia Civil informa que o caso registrado como morte suspeita no 22º DP de São Miguel Paulista está sendo investigado pela equipe do 103º DP de Itaquera. De acordo com a polícia, os exames periciais já foram realizados e o laudo necroscópico para apontar a causa da morte é aguardado.
Confira abaixo a nota enviada pela Secretaria Municipal da Saúde:
"A Autarquia Hospitalar Municipal (AHM) informa que o paciente deu entrada no Hospital Tide Setúbal em 25/9, trazido pelo SAMU, após ingestão de álcool e queda, segundo relato próprio. Apresentava dor e edema no joelho direito. Foi descoberto que, há quatro meses, paciente sofreu Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Em 26/9, paciente foi encaminhado ao Hospital Monumento para cirurgia no joelho. Dois dias depois, voltou ao Tide Setúbal para pós-operatório, apresentando sequelas de abstinência alcoólica, sendo encaminhado para avaliação na psiquiatria. No mesmo dia, 28/9, paciente sofreu duas paradas cardiorespirratórias. Mesmo com manobras para reverter o quadro, entrou em óbito. Familiares não fizeram visita desde a entrada, em 25/9. Somente em 29/9 foi possível contato com uma sobrinha chamada Roberta para comunicar o óbito. A causa da morte será esclarecida pelo Serviço de Verificação de Óbito(SVO)."
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