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A estudante Deborah Fabri, de 19 anos, postou em seu perfil no Facebook, na tarde desta sexta-feira (11), um relato sobre o “trauma enorme” que sofreu após ter o olho esquerdo perfurado por estilhaços de uma bomba disparada pela Polícia Militar, durante protesto contra o presidente Michel Temer, em 31 de agosto, no Centro de São Paulo. Ela perdeu a visão do olho esquerdo.
“Não é fácil, nunca foi, tô (sic) passando por uma barra, o trauma foi enorme, ainda to (sic) num processo de recuperação físico e psicológico, a recuperação e a adaptação não é fácil, andar com o olho esquerdo sempre fechado, inchado, com algumas cicatrizes fazendo com que todo mundo ao meu redor sempre pergunte”, escreveu.
No relato, ela afirma que ainda não conseguiu retomar os estudos. Ela é aluna da Universidade Federal do ABC (UFABC).
Em outubro, um grupo de alunos denunciou a faculdade ao Ministério Público Federal por ter concedido apoio a jovem após ela ser ferida. A UFBA afirma que gastou R$ 14 para buscar o pai da estudante na rodoviária.
“Ter tentado voltar as aulas e não ter conseguido não foi fácil, lidar com a exposição absurda que tive não foi fácil também”, comenta.
No post, Débora critica o atendimento que recebeu durante o depoimento que prestou à polícia. Em setembro, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo disse ao G1 que iria procurar a jovem para investigar como a universitária se feriu, tentar identificar e, "eventualmente", responsabilizar quem a machucou.
A estudante não diz quando e onde prestou depoimento, mas alega ter sido interrogada com perguntas tendenciosas e invasivas.
“(...) Me cansam de perguntas intermináveis e depois viram o jogo pra uma artilharia pesada fazendo perguntas invasivas e carregadas, perguntas que possuem uma afirmação embutida, de modo que ela não pode ser respondida sem uma certa admissão de culpa, como por exemplo "Você foi para lá sabendo dos riscos? Você faz parte de algum partido? Você faz parte de algum grupo social? O que motiva a polícia ter tacado bombas? Você disse uma vez na internet numa discussão sobre história (...)"
Ao final do texto, ela defende e agradece à militância, diz que não se arrepende "jamais" de participar das manifestações, onde aprendeu a lutar e ver sociedade de outra forma.
“Foram nas manifestações que eu ganhei a visão, foram lá que eu enxerguei as pessoas na sua maior plenitude, é lá que eu enxergo a esperança, são lá que meus sentidos ficam mais aguçados. (...) O mundo que eu enxergo hoje, apenas dois olhos nunca enxergarão, mais importante que a visão de um olho é enxergar com o coração. Minha imagem carrega o retrato da violência, mas meu coração carrega força, resistência e amor.”
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