Notícias
Uma mansão de quatro andares, da família do ex-médico Roger Abdelmassih localizada nos Jardins, área nobre da Zona Oeste de São Paulo, foi colocada à leilão por R$ 18,4 milhões por decisão da Justiça.
Isso porque uma antiga cliente da clínica onde atuava Roger entrou com uma ação pedindo indenização alegando não ter recebido o tratamento de fertilização pelo qual pagou, em torno de R$ 137 mil, em valores atualizados pela Justiça em maio deste ano.
Os interessados podem se cadastrar no site da Lut Leilões. A primeira rodada do leilão acontece entre terça-feira (22) e sexta-feira (25). Se ninguém se interessar, o preço do imóvel cai 10% e há uma segunda rodada até 16 de dezembro.
A mansão foi a residência de Roger no período em que era considerado um dos principais nomes da reprodução assistida no Brasil. Em 2010, ele foi condenado por crimes sexuais contra outras 37 ex-pacientes. O então geneticista sempre negou, alegando que apenas beijava as pacientes. No ano seguinte o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), no entanto, também cassou seu registro profissional.
Para não ser preso, Roger fugiu com a atual mulher e os dois filhos para o Paraguai, onde foi preso em 2014. Ele atualmente está detido numa unidade prisional em Tremembé, interior do estado onde cumpre pena de 181 anos de prisão por estupros, atentados violentos ao pudor e atos libidinosos contra mulheres, entre 1995 e 2008.
"Quem vai querer comprar uma casa onde morou um tarado?", perguntou uma vizinha a reportagem ao ser indagada se sabia do leilão do imóvel e quem foi seu dono. "Além disso o país vive uma recessão econômica".
Segundo a empresa Lut Leilões, que coordena o processo de venda, a mansão ocupa uma área de 900 metros quadrados, sendo que a área total construída chega a 1,3 mil metros quadrados.
A residência tem guarita para segurança, portões e muros altos, três suítes com closets, sala com lareira, espaço gourmet, vagas para dez carros na garagem, spa, sala de ginástica, piscina e até cinema.
Filho de Roger
Está é a primeira vez que o imóvel vai integralmente a leilão. Em outras oportunidades, foi disponibilizado para arrematação apenas um quinto da mansão, parte que pertence ao filho de Abdelmassih, o médico Vicente Ghilardi Abdelmassih. Após a morte da mãe, em 2009 Vicente passou a ser dono da casa juntamente com seus irmãos.
Ele sofreu o processo de execução do imóvel porque era sócio da clínica junto com o pai, apesar de ser dono de apenas 1% da empresa. Segundo o advogado de Vicente, Marcelo Giraldes, não é possível recorrer porque o processo está em fase de execução. Para o atual leilão, a Justiça consultou os outros membros da família Abdelmassih sobre a possibilidade de colocar todo o bem à leilão, e não apenas um quinto. Eles não se opuseram.
Vicente, de 48 anos, é filho de Sônia, segunda mulher de Roger. Em entrevista ao Fantástico, em dezembro de 2014, ele falou que ainda era um bebê quando a mãe se casou com o médico, a quem ele chama de pai e herdou o sobrenome. Especialista em reprodução assistida, Vicente trabalhou na clínica de Roger de 1996 até 2009. Atualmente, ele processa o pai por danos morais e materiais e já obteve uma vitória em primeira instância, segundo o advogado Marcelo Giraldes.
Mansão alugada
A mansão que está a leilão não continua completamente vazia. Uma empresa que trabalha em eventos funciona no local, segundo vizinhos. "É um entra e sai constante de gente nessa casa", falou um morador do bairro.
Como a maioria da vizinhança, as pessoas só aceitaram falar com a reportagem sob a condição de que seus nomes não fossem divulgados. Eles confirmaram que a rua onde está a mansão é famosa justamente pelo fato de Roger ter morado ali.
Segundo os vizinhos, Roger morava de aluguel numa mansão vizinha, mas como o proprietário não quis vendê-la, ele comprou a do lado, onde construiu uma similar. "Ele usou quase a mesma arquitetura neoclássica estilo francês da minha", falou a moradora. "Foi aí nessa mansão que Roger se casou pela terceira vez, numa festa que reuniu 300 convidados".
A mulher se refere ao casamento em 2010 do ex-médico, então com 66 anos, com a procuradora licenciada Larissa Maria Sacco, que tinha 34 à época. O casal teve dois filhos. Antes, Roger foi casado com uma mulher de quem se separou, depois se casou novamente e manteve a união até a morte da mulher por câncer, em 2008. Ele tem mais filhos.
Procurado pelo G1, o atual inquilino da mansão também não quis divulgar seu nome. Ele afirmou que paga cerca de R$ 30 mil mensais de aluguel e que só descobriu que o imóvel pertence à família Abdelmassih após fechar contrato.
"Soube que a casa foi do Roger Abelmassih somente quando comecei a receber os carnês de IPTU [Imposto Predial e Territorial Urbano] no nome dele", falou o empresário. "Mas isso não me atrapalha nos negócios. É só uma casa".
A casa ficou à venda por 3 anos, segundo a vizinha, e houve oferta de até R$ 12 milhões. Neste ano, não houve nenhum interessado, segundo o atual morador. "Só mesmo a visita de um corretor", falou o homem, que planeja se mudar. "Alugar algo mais barato".
Caso o leilão seja concretizado, o valor será pago dividido entre Vicente e os demais familiares também proprietários da casa. O valor pago vai cobrir dívidas de IPTU do imóvel, que até o início deste ano chegavam a R$ 478 mil.
Roger Abdelmassih
As primeiras denúncias de abusos sexuais contra o médico começaram em 2008. Um ano depois, Abdelmassih foi indiciado, em junho, por estupro e atentado violento ao pudor. Ele chegou a ficar preso de 17 de agosto a 24 de dezembro de 2009, mas recebeu do Supremo Tribunal Federal (STF) o direito de responder ao processo em liberdade.
A denúncia do Ministério Público Estadual (MPE) à Justiça apontou que o médico tinha estuprado 39 pacientes. Ao todo, as vítimas acusaram o médico de ter cometido 56 estupros.
Em 23 de novembro de 2010, a Justiça o condenou a 278 anos de reclusão. Foram considerados 48 ataques a 37 vítimas entre 1995 e 2008. Abdelmassih não foi preso logo após ter sido condenado porque um habeas corpus do Superior Tribunal de Justiça (STJ) dava a ele o direito de responder solto.
O habeas corpus foi revogado pela Justiça em janeiro de 2011, quando ex-médico tentou renovar seu passaporte, o que sugeria a possibilidade de que ele tentaria sair do Brasil. Como a prisão foi decretada e ele deixou de se apresentar, passou a ser procurado pela polícia.
Em 24 de maio de 2011, o Cremesp cassou o registro profissional de médico de Abdelmassih.
Após três anos foragido, quando chegou a ser considerado o criminoso mais procurado de São Paulo, Roger foi preso no Paraguai pela Polícia Federal (PF), em 19 de agosto de 2014. Em outubro daquele ano, a pena dele foi reduzida para 181 anos, 11 meses e 12 dias, por decisão judicial. Entretanto, pela lei brasileira, nenhuma pessoa pode ficar presa por mais de 30 anos.
Em agosto de 2016, a reportagem revelou que Abdelmassih foi denunciado pelo MPE por mais um caso de atentado violento ao pudor contra uma de suas pacientes.
Segundo policiais, Abdelmassih também é investigado em outro inquérito por crimes de manipulação genética irregular e sonegação fiscal.
Utilize o formulário abaixo para comentar.
Utilize o formulário abaixo para enviar ao amigo.
- 17/06/2024 23:02 Juliano Cazarré revela que adotou filho mais velho diante da polêmica sobre a PL do aborto
- 09/06/2024 22:04 Manifestantes protestam contra PEC das Praias na orla do Rio
- 06/06/2024 01:15 Transar no trabalho, como fizeram médico e enfermeira, vale demissão?
- 05/06/2024 19:02 Calamidade gaúcha: 73 cidades tiveram pelo menos 10% da área atingida
- 13/03/2024 21:00 STF reconhece licença-maternidade a não gestante em união homoafetiva