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Em quatro dias, mais de 850 migrantes africanos conseguiram entrar na Espanha cruzando a cerca entre o Marrocos e o enclave espanhol de Ceuta. O fato acontece em um contexto de tensão entre a União Europeia (UE) e o governo marroquino. Os enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla, no norte da África, são as únicas fronteiras terrestres entre o continente africano e a Europa. O controle fronteiriço é realizado em conjunto pela Espanha e pelo Marrocos. As informações são da Radio France Internationale.
"Na madrugada desta segunda-feira (20), cerca de 600 subsaarianos tentaram entrar em Ceuta e 359 deles conseguiram", disse, em um comunicado, a delegação do governo espanhol na cidade. "Eles entraram rompendo as portas de acesso com tesouras industriais e martelos. Não precisaram saltar a cerca fronteiriça de seis metros de altura."
Na sexta-feira (17), quase 500 migrantes já haviam entrado na Espanha pelo mesmo local. A delegação do governo contabilizou 498 migrantes que conseguiram saltar a cerca, de um total de 700 pessoas que tentaram. Na ação, dois migrantes ficaram feridos, um com fratura na perna e outro com traumatismo. Onze guardas civis também ficaram feridos quando tentavam impedir a entrada.
A invasão dessa segunda-feira ocorreu em uma zona difícil de controlar. Segundo Isabel Brasero, porta-voz da Cruz Vermelha em Ceuta, desta vez não houve feridos graves. "Levamos 11 pessoas ao hospital: oito necessitavam suturas e três radiografias", disse. Já a delegação do governo informou que dois guardas civis e um migrante ficaram feridos.
Disputa Marrocos-UE
As invasões de imigrantes ocorrem num contexto em que as relações entre o Marrocos e a União Europeia não passam por um bom momento. O país africano tem lançado ameaças de relaxamento do controle migratório. O motivo da disputa são as diferentes interpretações do acordo de livre comércio sobre os produtos agrícolas e pesqueiros.
No final de 2016, o Tribunal de Justiça da UE estimou que, no Saara Ocidental, antiga colônia espanhola controlada pelo Marrocos, esse acordo não era aplicável, tendo em conta o estatuto separado e distinto desse território em relação ao Marrocos, reconhecido pelas Nações Unidas.
Desde então, associações que apoiam o movimento que pede a independência do Saara Ocidental protestam contra várias operações comerciais entre o Marrocos e os países europeus que afetam os produtos chegados do Saara.
O ministro marroquino de Agricultura, Aziz Akhannouch, advertiu no dia 6 de fevereiro que a Europa se expunha a um "verdadeiro risco de reativação dos fluxos migratórios que o Marrocos tem conseguido conter devido a um esforço contínuo", disse.
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