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02/11/2017 09:36
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Imigração e terrorismo nos EUA
Sayfullo Saipov em imagem de arquivo do Departamento de Correções do Condado de St. Charles, Missouri. Ele foi detido em 2016 por infração no trânsito. / (Foto: Departamento de Correções do Condado de St. Charles / via AFP Photo)

Diante do ataque terrorista da última terça-feira em Nova York, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, veio a público sugerir o endurecimento nas leis de imigração. “Somos tão politicamente corretos que temos medo de fazer qualquer coisa”, disse.

 


O terrorista Sayfullo Saipov (foto), de 29 anos, invadiu a ciclovia no Sul de Manhattan com um caminhão, atropelou quem visse pela frente e matou oito pessoas. Saipov imigrou do Uzbequistão para os Estados Unidos em 2010, sorteado na loteria anual que oferece vistos de trabalho como parte de um programa de diversidade.

 


O programa, em que todo ano 25 milhões concorrem a 50 mil vistos, sempre sofreu pesadas críticas dos adversários da imigração, acusado de abrir a porta dos Estados Unidos a todo tipo de desgraça, até mesmo ao vírus Ebola. Há muito mais fantasia que realidade nesse tipo de crítica.

 


Para ser contemplados com o sonhado “green card”, os candidatos a imigrantes têm ainda de passar por uma seleção rigorosa que envolve entrevistas, verificações no exterior e pelo próprio Departamento de Segurança Interna, assim que chegam ao país.

 


A seleção pode falhar. Mas só há, de acordo com Jeremy Neufeld, do Niskanen Center, dois casos de terroristas que entraram nos Estados Unidos com um visto de diversidade: Saipov e um atirador que disparou contra o balcão da companhia israelense El Al no aeroporto de Los Angeles, em 2002.

 


Ainda não são conhecidas as propostas do governo Trump para endurecer a entrada de imigrantes. Mas é questionável que possam ter algum efeito para prevenir novos ataques, mesmo que incluam outros tipos de visto.

 


Desde 1975, 3.037 pessoas morreram em ataques terroristas cometidos por 182 estrangeiros nos Estados Unidos, segundo um levantamento do pesquisador Alex Nowrasteh, do Cato Institute. A maior parte corresponde às 2.977 vítimas da tragédia de 11 de Setembro de 2001.

 

 

Só três desses 182 terroristas estrangeiros eram uzbeques, incluindo Saipov. Menos de 35% (63) entraram no país com “green card” como ele, por meio de todos os programas. Foram responsáveis por 0,53% das mortes (16). “A chance de morrer num ataque terrorista cometido por estrangeiro em solo americano é de 1 em 3.808.094 por ano”, diz Nowrasteh. É uma chance inferior à de ser atropelado por um trem ou à de ser queimado pelas próprias roupas em combustão espontânea, segundo análise do Vox.
A concentração de Trump na questão da imigração encontra eco em sua base eleitoral. Mas mesmo conservadores que veem necessidade de impôr restrições aos imigrantes criticam medidas como o veto temporário à entrada de sete países, determinado no início do governo e desafiado na Justiça (a decisão final ainda cabe à Suprema Corte).

 


“Os decretos em questão foram um desastre por que não oferecem melhora significativa à segurança, enquanto o litígio em torno deles provocou um sério dano à meta de um melhor sistema de seleção”, escreve Andrew McCarthy na National Review. “O governo foi levado a apoiar, pelo menos tacitamente, que restrições à admissão de estrangeiros seriam constitucionalmente inválidas se levassem o Islã em consideração.”

 


Para McCarthy, é preciso separar, entre os candidatos à imigração, muçulmanos que apoiam o “supremacismo da sharia” daqueles que respeitam a Cosntituição. Seria impossível, diz ele, fazer isso sem usar o Islã como critério de seleção dos novos imigrantes.

 


O caso de Saipov demonstra, contudo, que mesmo esse filtro migratório contra o "Islã radical" teria sido insuficiente para evitar o atentado. Saipov não era radical. Tornou-se um depois de imigrar. É o que também acontece com a a maior parte de seus compatriotas uzbeques que aderem ao jihadismo. Eles em geral se radicalizam na Rússia.
Teria sido possível pegar Saipov antes do atentado? Os indícios eram difusos. Ele tinha um histórico contumaz de multas de trânsito (pelo menos nove) e chegou a ser detido no Missouri depois deixar de pagar uma delas. Mudou-se recentemente da Flórida para New Jersey, onde frequentava uma mesquita visada pelas autoridades desde 2012. Vizinhos relatavam atividades suspeitas com um caminhão. Mesmo assim, a polícia foi incapaz de detê-lo.

 


Caminhões se tornaram a arma preferida dos terroristas incitados pelo Estado Islâmico (EI). A revista do EI publicou há dois anos uma exortação a que os jihadistas adotassem o atropelamento como método. Até mesmo a nota manuscrita encontrada com Saipov reproduz palavras recomendadas pelo texto do EI: “Suplício Islâmico. Ele perdurará”. Desbaratar as redes internacionais de recrutamento e propaganda do EI é mais complexo – mas seria mais eficaz contra o terror do que simplesmente restringir a imigração.

 

 

Fonte: G1

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