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Trump assina decreto para enfraquecer Obamacare e incentivar planos de saúde básicos.
Desde que assumiu, coerente com a doutrina que despreza organismos internacionais, o presidente americano, Donald Trump, deixou o Tratado da Parceria Transpacífica (TPP), o Acordo de Paris para o clima e, ontem, anunciou a saída da Unesco. Mas é a ameaça que paira sobre o acordo nuclear de 2015 com o Irã que definirá sua política externa.
O acordo com o Irã tem uma característica que o distingue dos demais pactos internacionais desdenhados por Trump: tem importância não apenas para o frágil equilíbrio no Oriente Médio, mas para a estabilidade nuclear global, já ameaçada pela Coreia do Norte.
A rede de televisão NBC relatou recentemente que Trump está incomodado com o tamanho do arsenal nuclear americano, que considera insuficiente para deter a ameaça norte-coreana. Gostaria de multiplicá-lo por dez. A ruptura do acordo com o Irã poderia lhe oferecer o pretexto necessário para voltar a investir no acúmulo de armas atômicas.
De acordo com as últimas avaliações da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), publicadas no final de agosto, o acordo tem sido eficaz para cumprir o objetivo a que se propunha: interromper o enriquecimento de material para fins militares no Irã. “Os compromissos nucleares assumidos pelo Irã sob o acordo têm sido implementados”, afirmou anteontem o diretor-geral da AIEA, o general japonês Yukiya Amano.
Embora o governo de Israel tenha desde o início se oposto ao pacto, as vozes discordantes se ampliaram também entre os israelenses – como Uzi Arad, ex-diretor do Mossad e ex-assessor do premiê Benjamin Netanyahu e o general e ex-premiê trabalhista Ehud Barak. Assim que Trump abandonasse o acordo, diz Barak, o Irã teria um pretexto para retomar o enriquecimento de urânio e ampliaria a ameaça a Israel.
Para o governo Trump, há mais em jogo que apenas a questão nuclear. Numa reunião recente entre os países signatários, o secretário de Estado, Rex Tillerson, cobrou do chanceler iraniano, Javad Zarif, medidas contra o terrorismo e a interrupção ao financiamento a grupos xiitas como o Hizbollah, relatou Dexter Filkins na revista New Yorker.
Zarif – principal representante iraniano nas delicadas e exaustivas negociações do acordo com a administração Barack Obama, China, Rússia, França, Reino Unido e União Europeia – explicou a Tillerson que essa questão fora deixada de lado nas conversas nucleares. Também cobrou dele o descongelamento de ativos financeiros iranianos, como previsto nos termos do acordo. Tillerson saiu da sala e a reunião terminou em clima de tensão.
Os republicanos estão divididos. De um lado, há quem acredite ser possível repará-lo. Insatisfeito com as inspeções da AIEA, esse grupo quer ampliar os termos de verificação, exige cláusulas vedando mísseis intercontinentais – inexplicavelmente abandonadas na negociação – e pretende condicionar o fim da moratória de enriquecimento ao cumprimento de condições que tornem inviável a retomada do programa nuclear.
Para esse grupo, a melhor forma de pressão é a que Trump aparentemente pretende adotar: deixar de certificar o cumprimento do acordo – o prazo se esgota no domingo – como forma de pressão para que o Irã ceda noutros pontos. Outro grupo acredita que o melhor é simplesmente anunciar a ruptura. Para eles, o problema é o acordo permitir ao Irã a possibilidade de voltar a enriquecer urânio para fins militares num futuro, mesmo que remoto – algo inaceitável.
“O objetivo deveria ser recriar uma nova coalizão antiprolliferação para substituir a desperdiçada pela administração anterior, incluindo aliados europeus, Israel e os países do Golfo”, escreveu o ex-embaixador americano na ONU John Bolton, um dos principais defensores da ruptura, num plano descrito na National Review. Essa posição é vista com simpatia pelos governos de Israel e, de modo menos explícito, Arábia Saudita.
A diferença entre as duas atitudes está na desconfiança do Irã. Para os defensores da ruptura, mesmo que Zarif tenha se revelado um diplomata hábil e que, até o momento, os dispositivos do acordo tenham sido cumpridos, ele não representa a vontade real do regime dos aiatolás. O acordo seria apenas uma armadilha com que eles enganaram o Ocidente, para voltar a ter acesso a seus ativos financeiros.
A dúvida é se deixar de certificar o acordo não teria o mesmo efeito, por levar, como imagina Barak, os próprios iranianos a rompê-lo. Em ambas as situações, a política de Trump descongelaria o programa atômico iraniano, criaria mais um foco de escalada nuclear no planeta e justificaria seus planos para ampliar o próprio arsenal americano.
Fonte: G1
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