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A Venezuela realiza, neste domingo (15), eleições regionais nas quais irá determinar os novos governadores de seus 23 estados. Atualmente, 20 estados são governados por chavistas, mas pesquisas indicam que a situação deve perder a maioria.
Mais de 18 milhões de venezuelanos estão registrados para votar, mas os índices de abstenção são tradicionalmente altos no país. Segundo o diretor da Datanálisis, José Antonio Gil Yepes, há uma previsão de que 40% a 50% dos eleitores votem, e a oposição – que cogitou não participar do processo – pode conquistar de 13 a 16 estados. Membros da Mesa da Unidade Democrática (MUD), coalizão que une a oposição, foram impedidos de disputar os cargos em sete estados.
Ainda assim, é difícil prever os reflexos da eleição, independentemente de seu resultado. Para a professora venezuelana Thania Soto Lemke, coordenadora do Núcleo de Relações Internacionais da Faculdade das Américas, ela não pode ser considerada uma definição do quadro político do país.
“Tendo em vista que o poder está nas mãos da Assembleia Nacional Constituinte e que o Conselho Nacional Eleitoral está sabidamente com o governo, essa eleição é uma incógnita. Especialmente no contexto da própria Constituinte, depois do que já aconteceu”, explica.
Desconfiança
O problema, segundo ela, é que a população venezuelana não consegue sequer confiar que suas decisões serão respeitadas. Isso acontece pelo precedente aberto pela instituição da Assembleia Constituinte, composta inteiramente por chavistas, depois que a oposição conquistou a maioria do Parlamento.
Desta forma, os venezuelanos enfrentam um dilema. Por um lado, caso decidam se abster, podem ver eleitos candidatos da situação, mantendo a hegemonia do regime de Nicolás Maduro. Por outro, votar, de certa forma, significa legitimar a Constituinte, que foi quem convocou o processo.
As eleições regionais deveriam ter sido realizadas em dezembro de 2016, mas foram adiadas para dezembro deste ano. Em agosto, a Assembleia Nacional Constituinte anunciou que elas seriam antecipadas para 15 de outubro.
Para a professora, não há uma solução fácil ou ideal para esse impasse, mas votar, para a oposição, ainda é mais indicado do que se omitir.
“A abstenção foi um dos grandes erros da oposição nos últimos anos, pelo qual ela está pagando até hoje”, ressalta.
Perplexidade
Ela afirma que a antecipação pode ter sido uma forma encontrada pelo governo de Maduro de se aproveitar do que chama de "momento de choque" e que isso pode explicar o aparente desânimo observado no país, um clima muito diferente daquele registrado antes do referendo pela Constituinte, com violentos protestos diários que resultaram em mais de 100 mortes. "As ruas ficaram perplexas com a Constituinte", avalia. Além disso, ela entende que a oposição concluiu que aquele modo de ação não trouxe os resultados esperados.
Mas, observa, a apatia fortalece a estratégia de manutenção do chavismo, e isso pode ser percebido inclusive na retórica empregada pelo presidente: na quinta-feira (12), dia de encerramento da campanha oficial, ele afirmou que, ao votar, os cidadãos estariam confirmando a importância da Constituinte e da missão política de seu governo.
Economia x política
Lemke acredita que, mais do que eleições, a questão econômica é que deve ditar o futuro do país. “O que não é uma incógnita, é um fato, é que a Venezuela está sendo engolida por sua situação econômica, e essas sanções dos Estados Unidos e da Europa é que vão determinar a direção. A questão econômica está se sobrepondo à política, é ela que provavelmente vai definir o que vai acontecer na Venezuela. Mais até do que esse devaneio político de uma Constituinte inoperante, que não fez praticamente nada até agora”, avalia.
Uma indicação disso, aponta, foi a estratégia adotada por alguns candidatos chavistas a governador, que se distanciaram da imagem do presidente durante a campanha eleitoral. Ainda que isso possa ser uma estratégia na busca por votos, ela não acredita em uma reaproximação. “Há uma oposição dentro do chavismo. Para sobrevivência no poder alguns se distanciam de Maduro, porque as sanções, as coisas ruins, ficarão sem dúvida concentradas na figura dele”, destaca.
Observadores internacionais
Na quinta-feira, o Conselho Nacional Eleitoral venezuelano anunciou que uma missão estrangeira com 70 integrantes irá atuar como observadora internacional nas eleições regionais. O grupo é composto por “membros do Conselho de Especialistas Eleitorais da América Latina (Ceela), acadêmicos, intelectuais, deputados, ativistas sociais e direitos humanos, membros de sindicatos e agremiações provenientes dos EUA e países da América do Sul e Europa”.
Em comunicado, o Itamaraty informou que o Brasil não foi convidado a enviar observadores, e afirmou que as eleições deste domingo “devem ser realizadas em um quadro de pleno respeito à Constituição e à Lei Orgânica dos Processos Eleitorais daquele país”. Ao lado dos outros integrantes do Grupo de Lima (Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai e Peru), o governo brasileiro fez ainda um “chamado a que a população venezuelana possa exercer seus direitos e votar no dia 15 de outubro em eleições realizadas sem interferências e de modo pacífico em todo o país”.
Fonte: G1
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