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“Um simples raio-x poderia evitar a morte do meu filho”. A frase é dita pelo pai do menino Diogo Vinicio Alves Pinto, que ainda tenta superar a dor de perder o único filho, de apenas 5 anos. Segundo a família da criança, duas unidades de saúde de Nova Iguaçu a liberaram por três vezes, sem o exame, dias antes dela morrer de pneumonia.
A luta para tentar salvar a vida da criança começou no dia 15 de outubro, na UPA de Cabuçu em Nova Iguaçu, após o menino ter dado entrada no local com forte febre e crise de convulsão.
Com a alegação de que a máquina de raio-x estava quebrada e que o pulmão da criança estava limpo, Diogo foi apenas medicado e, em seguida, liberado. No dia 26, o menino voltou a ter febre alta, convulsões e foi para o Hospital Geral de Nova Iguaçu (Posse), onde a família recebeu a informação de que o menino estava sem nenhum quadro grave. Mais uma vez, ele foi liberado sem fazer raio-x.
Um dia depois, vendo que o filho tinha piorado muito, a mãe da criança, Deiviane Alves, e o pai, Diogo de Oliveira, voltaram para a UPA de Cabuçu, onde, novamente, ouviram que o pulmão dele estava “totalmente limpo”.
No dia 2 de novembro, a criança morreu no Hospital Carlos Chagas, em decorrência de choque séptico, convulsão e pneumonia. A família acusa a UPA de Cabuçu e o Hospital da Posse de negligência.
“A médica da Posse disse para mim: ‘Pai, não precisa fazer raio-x. Só fazemos quando percebemos que é algo grave’. Mesmo eu explicando que ele estava com febre alta há dias, catarro e com o pulmão roncando muito, ela não quis fazer. Meu filho morreu dias depois”, contou o pai da criança.
Apenas no Hospital 21 de Julho, em Queimados, no dia 31 de outubro, que Diogo fez o raio-x, mas seu quadro já era muito grave e o local não tinha condições para tratar o menino.
Os pais do menino alegam que o Hospital da Posse disse que não tinha vaga para receber a criança de volta e, somente após uma ordem judicial, o menino foi transferido para o Hospital Carlos Chagas, onde morreu.
Pedido de ajuda nas redes sociais
Diante de tanto descaso, Deiviane chegou a fazer um vídeo ao vivo no Facebook, desesperada, pedindo ajuda para que conseguissem uma ambulância para a transferência da criança. A mãe também fez imagens que mostram um médico na UPA de Cabuçu dizendo que o pulmão do filho estava “totalmente limpo”.
O G1 esteve na UPA de Cabuçu e comprovou que a máquina de raio-x está quebrada. Um funcionário da unidade explicou que a máquina está há cinco meses sem funcionar.
“O médico que recebeu meu filho no Carlos Chagas disse que se ele demorrase mais 5 minutos, morreria dentro da ambulância. Levei meu filho numa ambulância que não tinha balão de oxigênio, não tinha espaço e sem recurso algum. Meu filho ficou convulsionando 11 horas direto, em estado gravíssimo”, acrescenta Diogo Oliveira.
Os sonhos do pequeno Diogo ficaram para trás. “Meu filho era uma criança levada, gostava de brincar, falava com todo mundo, muito simpática”, lamenta Deiviane, emocionada.
“Ele era uma criança pura, indefesa. Só precisava de ajuda e não quiseram ajudar a gente. Nossa família está destruída”, acrescenta o pai.
Dificuldade para registrar o caso
Deiviane pediu os prontuários do filho e nenhuma das unidades de saúde forneceu. Ela também afirma que tentou registrar a ocorrência duas vezes na 52ª DP (Nova Iguaçu). Na primeira vez, ela foi informada que os agentes estavam muito ocupados e que o caso dela não era tão grave. Na segunda, policiais pediram que ela fizesse o registro da 53ª DP (Mesquita). Como se não bastasse a dor de perder um filho, a família ainda tem encontrado dificuldades para registrar o caso. O G1 entrou em contato com a Polícia Civil e não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
Procurada pelo G1, a Secretaria Estadual de Saúde informou que lamenta a morte do paciente. Veja abaixo a nota na íntegra.
A Secretaria de Estado de Saúde informa que lamenta a morte do paciente Diogo Vinicio Alves Pinto. A SES ressalta que a direção da Unidade de Pronto Atendimento informou que o paciente deu entrada na unidade no dia 27/10, foi acolhido e avaliado pela equipe médica. A criança passou por exames laboratoriais que não apresentaram sinais de quadro infeccioso. O paciente foi liberado com orientação.
Após cinco dias (01/11) o paciente deu entrada no Hospital Estadual Carlos Chagas com quadro de insuficiência respiratória. Foi avaliado pela equipe médica, internado em unidade de terapia intensiva, acompanhado e medicado. No dia seguinte a criança evoluiu para óbito.
Quanto à solicitação de cópia do prontuário, o responsável legal deve se dirigir ao setor de documentação médica da unidade e protocolar a solicitação.
Já o Hospital da Posse informou que a direção abriu uma sindicância para investigar os fatos.
A direção do Hospital Geral de Nova Iguaçu informa que, assim que tomou ciência do caso, abriu uma sindicância para investigar os fatos alegados. E, na segunda-feira (27/11), o Conselho de Ética Médica será notificado. Desde já, a direção se coloca à disposição da família para prestar esclarecimentos.
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