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31/03/2018 13:13
Saúde
Autorizações para doação de órgãos crescem quase 30% em Alagoas
Taxa de recusa familiar reduziu de 71% em 2016, para 44% no ano passado
/ Fotos: Carla Cleto

Alagoas vem registrando queda na taxa de recusa familiar para doação de órgãos para transplantes. De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), o índice de negativas caiu de 71% em 2016, para 44% em 2017. Isso significa que, em um ano, o número de famílias que autorizaram a doação de órgãos de parentes com morte encefálica subiu 27%, o que leva o Estado a acompanhar o cenário nacional, cujo percentual corresponde a 42%.

 

 

 

“Atribuímos esses bons números ao trabalho de nossa equipe e, principalmente, às campanhas de conscientização que temos feito, que nos permitiram alcançar um público de diversas faixas-etárias.

 

 

 

A Central de Transplantes de Alagoas e a Organização de Procura de Órgãos (OPO) vêm trabalhando incansavelmente, tanto para garantir a integridade de todo o processo, quanto a agilidade para que os órgãos cheguem aos receptores”, destacou Daniela Ramos, coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas.

 

 

 

Contudo, 493 pessoas ainda estão na fila de espera por um órgão em Alagoas. Destas, 318 esperam para receber um rim, 173 para receber uma córnea e duas aguardam por um coração.

 

 

 

Portanto, para que a doação ocorra, é indispensável a autorização dos familiares. Por isso, um meio para ampliar a doação no Estado, de acordo com Daniela Ramos, seria que as pessoas que já tenham a consciência da importância da doação de órgãos declarassem aos seus familiares e amigos que desejam ser doadores.

 

 

 

“O cidadão que deseja ser doador não precisa assinar nem pagar nada, basta comunicar sua família para que, caso necessário, o procedimento seja autorizado. Para doações em vida, o doador deve ter mais de 18 anos de idade e o receptor deve ser cônjuge ou parente consanguíneo”, explicou.

 

 

 

Apesar de difícil, esse tipo de conversa familiar não deveria ser adiado para situações de emergência, pois, num momento de grande comoção a família pode ficar em dúvida sobre o que fazer, caso não existam consensos prévios.

 

 

 

“O desconhecimento da vontade do doador, a questão religiosa e, muitas vezes, o conflito entre os familiares, visto que uns aceitam, enquanto outros não, são alguns dos obstáculos que impossibilitam a realização dos transplantes de órgãos”, afirmou.

 

 

 

Apesar da ênfase emocional das campanhas públicas de incentivo à doação, é preciso que as pessoas saibam como ocorre todo o processo. A doação de órgãos ocorre quando há morte encefálica, que segue um rígido protocolo de exames clínicos e laboratoriais, em que a equipe médica especializada constata que a situação é irreversível.

 

 

 

Um único doador em morte encefálica pode, ao mesmo tempo, ajudar várias pessoas. Isso porque, todos os órgãos e tecidos autorizados pela família serão destinados a vários receptores, inscritos em filas de espera.

 

 

 

Quem arca com os custos dos procedimentos relacionados aos transplantes é o Sistema Único de Saúde (SUS), que também se responsabiliza pelo fornecimento, durante toda a vida, das medicações necessárias para evitar a rejeição do órgão transplantado. Nem a família do doador e nem a do receptor devem pagar para que os procedimentos sejam realizados.

 

 

 

Os órgãos e tecidos doados são removidos por meio de uma cirurgia. Portanto, a doação não desfigura o corpo, que pode ser velado normalmente, podendo, inclusive, ser cremado. A coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas acrescentou que, para o sucesso do transplante, é necessário o uso dos imunossupressores, que irão adequar o sistema imunológico e evitar a rejeição do órgão.

 

 

 

Além disso, é preciso cuidar das consultas, exames médicos periódicos e alimentação rica em cores variadas, que contenham proteínas, vitaminas e minerais, ingeridos de forma equilibrada, seguindo os horários, as orientações e cuidados.

 

 

 

“A doação de órgãos é um ato de caridade e amor ao próximo. A cada ano, muitas vidas são salvas por esse gesto altruísta. A conscientização da população sobre a importância da doação de órgãos é vital para melhorar a realidade dos transplantes no Estado”, concluiu.

 

 

 

Solidariedade na Dor

 

 

A família do vigilante Marcos Paciência Torres está entre as que contribuíram para aumentar o número de autorizações para doação de órgãos em Alagoas. Isso, porque, mesmo em meio à dor de ver o ente querido internado, após ser atropelado em Maceió, a esposa e as irmãs autorizaram a doação dos órgãos, mediante a constatação da morte encefálica.

 

 

 

“De repente ele estava conosco, bem, saudável. Em um piscar de olhos fomos informados que ele se encontrava internado no HGE [Hospital Geral do Estado]. Não é fácil perder o irmão mais novo. Mas, o mais difícil mesmo, foi ter que decidir sobre doar seus órgãos, quando a gente só pedia a Deus que nosso irmão se recuperasse e pudesse voltar ao nosso convívio”, recorda , emocionada, a irmã de Marcos Paciência Torres.

 

 

 

No entanto, em meio da dor da perda, saber que os órgãos do irmão fariam quatro pessoas terem mais qualidade de vida foi decisivo para que a pedagoga, outra irmã do vigilante e sua esposa, autorizassem a doação. “Deus derramou seu sangue por nós. Não poderíamos agir com egoísmo e deixarmos de salvar outras pessoas, principalmente por sabermos que nosso irmão só fazia o bem”, relatou a irmã do vigilante, que teve os rins, fígado e córneas doados.

 

 

 

Para isso, no entanto, foram decisivas as explicações da enfermeira da Organização de Procura de Órgãos (OPO), Mônica Ferrari. Profissional experiente e com grande sensibilidade para esclarecer todas as dúvidas que uma decisão desta magnitude requer, ela diz que os anos de atuação e treinamento a fizeram conquistar destreza na hora de abordar os familiares de pacientes com morte encefálica.

 

 

 

“É um momento de extrema dor, porque todos os familiares de uma pessoa que está entre a vida e a morte cultivam o desejo de vê-la recuperada e restabelecida. É muito complexo ter que acionar os familiares para explicar que a pessoa amada passará por exames e, que estes, podem constatar a morte encefálica. Mais complexo ainda é explicar a quem está fragilizado que a morte do ente querido ocorreu e que, neste momento, os familiares podem optar pela doação de órgãos, que pode salvar a vida de outra pessoa”, explicou Mônica Ferrari.

 

 

Fonte: Agência Alagoas

 

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