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18/09/2016 19:31
Saúde
Hipertensão: silenciosa, doença responde por 9,4 milhões de mortes em todo o mundo
Pressão alta afeta mais de 30% da população adulta e já acomete 5% das crianças e adolescentes
Prática regular de atividades físicas reduz em aproximadamente 30% o risco de desenvolvimento da hipertensão arterial / Carla Cleto
Agência Alagoas

Tente imaginar o coração e os vasos sanguíneos como uma torneira ligada a vários esguichos. Se fecharmos a ponta dos esguichos, a pressão subirá dentro da mangueira. No corpo humano acontece quase a mesma coisa. Se as arteríolas, que são as mangueiras, se fecham - ou ficam entupidas - a pressão arterial simplesmente aumenta. Responsável por 40% dos casos de infarto, 80% das ocorrências de acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e 25% de insuficiência renal terminal, a hipertensão é uma doença silenciosa, que precisa de cuidados para vida toda.

 


A cardiologista Stella Freire, do HGE, esclarece que a hipertensão é causada por um estreitamento dos vasos sanguíneos que obriga o coração a bombear sangue com mais força. “Quando isso acontece, os vasos recebem o sangue com uma pressão maior, porém estão estreitados. Com o passar do tempo, caso a hipertensão não seja tratada, tanto o coração quanto os vasos ficam sobrecarregados”, explicou, sublinhando que todo esse processo acelera o envelhecimento e provoca a lesão dos vasos sanguíneos, contribuindo para a formação de placas de gordura, que podem obstruí-los.

 


A Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) recomenda que, mesmo quem não sofra da doença precisa aferir (medir) a pressão ao menos uma vez por ano, como forma de prevenir e tratar a enfermidade. Segundo Freire, considera-se que uma pessoa é hipertensa se, medindo a pressão arterial em repouso, obtém-se valores acima de 140X90, sendo mais do que isso considerado de risco. “O ideal é que a pressão arterial esteja abaixo de 120x80”, disse, frisando que esses valores independem da idade, isto é, tanto faz que a pessoa tenha 20 ou 60 anos.

 


Para ela, o diagnóstico da hipertensão é mais fácil hoje em dia, uma vez que os brasileiros criaram o hábito de ir ao médico regularmente.


A maioria dos hipertensos não apresenta sintomas, ou seja, não sente sintomas que possam servir de alerta. De acordo com a médica, além dos casos assintomáticos, existem aqueles em que o paciente não faz a relação entre a dor e a possibilidade de um problema de pressão alta. Mas alguns sintomas devem acender o botão vermelho. “Tontura, visão embaçada, dor de cabeça e dor na nuca surgem quando a pressão está muito alta”, explicou Freire, ao alertar que, mesmo se a dor for leve, o paciente não deve esperar. O ideal é que busque consulta.

 


Conforme dados do último levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), a hipertensão responde por 9,4 milhões de mortes em todo o mundo. Na maioria das vezes, não é possível achar uma causa para a doença, mas, geralmente, resulta da associação do estilo de vida e do histórico familiar. Do ponto de vista genético, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), quem tem pais hipertensos corre risco de apresentar a doença em até tem 30%. Quando a herança é bilateral, o risco sobe para até 60%.


A relação entre a circunferência da cintura e do quadril é extremamente importante para avaliar o risco de se ter complicações da doença cardiovascular, porque o tecido da gordura abdominal produz substâncias que fazem mal ao organismo. A circunferência máxima para mulheres é 88 centímetros e para homens 102.
A hipertensão é uma doença crônica, portanto, o tratamento é por toda a vida. Junto com o remédio que nunca deve ser interrompido, é necessária a adoção de hábitos de vida mais saudáveis, como: fazer exercícios físicos; manter um peso adequado; evitar tabagismo; ter uma dieta balanceada (livre de gordura); reduzir a ingestão de sal e controlar o estresse.



Mudanças para vida toda

 


Eduardo Jorge é um homem grande de olhos castanhos e cabelos grisalhos. Tem 46 anos. Carrega seus 138 quilos – distribuídos em 1,75 de altura. Todas as vezes que ele comia churrasco, feijoada, costelinha de porco, pipoca e salgadinho de batata frita, sentia sua visão embaçada, além de fortes dores na cabeça, que chegavam a incomodar. A família, vez ou outra, chamava sua atenção. Mas ele dava de ombros e continuava a comer, sem parar.


No entanto, o que os olhos não veem, o coração sente. Em alto grau. Numa ida ao consultório médico, em 2012, Jorge foi diagnosticado com hipertensão. Pressão dezessete por onze, índice considerado muito elevado pelos especialistas. Exames foram solicitados, mas como não tinha condições de realizá-los, achou melhor se assegurar com as receitas médicas emitidas pelos postos de saúde. “No começo era mais difícil, hoje levo a situação com mais tranquilidade”, disse, enquanto gotas de suor escorriam por seu rosto e que ele limpava com a palma da mão esquerda.


Jorge passou a tomar medicamento anti-hipertensivo e tem controlado o consumo de sal nas refeições. Mas, apesar das orientações do médico, ele ainda precisa aprender a escapar dos prazeres gulosos. O cheiro tentador da carne de panela é sinal verde para beliscar. Molho grosso da carne, colesterol puro. Cuscuz quentinho com bastante margarina, acabado de sair do fogão. Nem se fala.



Ele já viu a pressão atingir dezenove por treze, como também presenciou casos de infarto e derrame em sua família, provocados pela pressão alta. Uma luta que depende de esforço, e ele sabe disso muito bem. “Hoje em dia, os meus verdadeiros medos, que até então eu negava que existiam, é o de engordar ainda mais, ou sofrer de um AVC ou de um infarto fulminante. Porque tem vezes que eu começo a caminhar e me falta fôlego. Eu não tenho mais aquela resistência que eu tinha antes. Isso tudo é horrível”, desabafou.



Para quê tanto sal nessa comida?


Estima-se que o consumo médio do brasileiro seja de 12 gramas de sal por dia, mais do que o dobro dos 5 gramas diários recomendados pela OMS. Para calcular o teor da substância, deve-se multiplicar o valor de sódio no rótulo por 2,5 – o resultado indica o correspondente em gramas de sal. Um alimento com 500 mg de sódio, por exemplo, representa 1,25 g de sal.



“A melhor forma de saber que está consumindo a quantidade de sódio ideal é habituar o paladar ao “frio de sal”, que é aquela comida insossa, sem gosto”, recomendou a cardiologista. Freire orientou, ainda, que a pressão arterial deve ser medida logo na infância, já que o acesso aos salgadinhos, bolachas doces recheadas, iogurtes, hambúrgueres, refrigerantes e doces, sempre estão à disposição nessa fase. O resultado, segundo ela, é que os pequenos comecem apresentar níveis altos de colesterol e alteração na pressão.



De acordo com o Departamento de Hipertensão Arterial da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC / DHA), a prevalência da hipertensão arterial na população negra é mais elevada, bem como é maior sua gravidade, particularmente quanto à incidência de hipertensão arterial maligna, acidente vascular encefálico e insuficiência renal crônica. Esse comportamento pode estar relacionado a fatores étnicos ou socioeconômicos.

 


Recomenda-se especial atenção quanto às medidas não medicamentosas para os negros, principalmente redução do consumo de sal e perda de peso. Com relação ao tratamento medicamentoso, existem evidências de que nesse grupo de indivíduos os diuréticos têm eficácia aumentada e, assim como os brancos, diminuem a morbidade e a mortalidade cardiovasculares.



Atividade física ajuda a combater a hipertensão

 


A prática regular de atividades físicas reduz em aproximadamente 30% o risco de desenvolvimento da hipertensão arterial. “A prática esportiva libera substâncias vaso dilatadoras, que auxiliam no controle da pressão”, disse Freire. Dessa forma, a cardiologista recomenda a execução do treinamento aeróbico (caminhada, bicicleta, esteira e natação), que pode ser conduzido com diferentes modalidades, pelo menos quatro vezes por semana, com 30 minutos de exercício e nível de intensidade leve a moderada (40% a 60% da frequência cardíaca).

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