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O mês de setembro inicia com mais um desafio para a equipe da Central de Transplantes de Alagoas. Com uma fila de 407 pessoas à espera de órgãos, eles deram início ao Setembro Verde, que visa conscientizar doadores, familiares, profissionais e estudantes para a importância desse gesto que pode salvar vidas. Conforme revelou a coordenadora da Central de Transplantes, Daniela Ramos, a missão não é fácil, pois há tabu e preconceito, mas principalmente desinformação sobre em que condições o processo se dá. Entre os aspectos culturais, o religioso ainda é um dos maiores. Por isso, a luta pelo convencimento e, antes de tudo, o esclarecimento, promete ser intensificada, em especial com a realização do III Simpósio de Doação de Órgãos e Tecidos de Alagoas, dias 29 e 30 de setembro. Atualmente, em Alagoas, 147 pessoas estão à espera de uma córnea, uma espera um coração e 259 aguardam por um rim, de acordo com dados do mês de julho. Para mais informações, é só mandar um e-mail para doevida@saude.al.gov.br ou ligue 3376-8186. A Central funciona 24h.
Gazeta. Estamos no início do mês e a Central de Transplantes inicia a campanha Setembro Verde. Qual o objetivo?
Daniela Ramos – No próximo dia 27 é o Dia Nacional de Órgãos. Por isso, o mês passou a ser referência em alusão a este tema. A Central de Transplantes, junto com a Organização de Procura de Órgãos (OPU), mais as Comissões Internas Hospitalares de Transplantes de Órgãos e algumas associações estamos unindo campanhas, eventos, palestras, capacitações, tanto para a população como para profissionais. Para fechar essa mobilização estamos realizando o III Simpósio de Doação de Órgãos e Tecidos de Alagoas para fechar a programação. O objetivo é discutir vários temas relacionados com profissionais e estudantes. Eles podem se inscrever pelo endereço simposiodoacaoal@hotmail.com, de forma gratuita.
Como Alagoas está posicionada nacionalmente em relação aos transplantes?
No ano de 2016, em nível nacional, o País teve um índice de recusa familiar de 43%. Ou seja, de famílias que não autorizaram a doação. E Alagoas ficou com um número bastante expressivo de 71% de recusa. Por isso estamos nos mobilizando para que possamos sensibilizar mais as pessoas e organizar todo o nosso processo de trabalho para esse número deixar de ser tão alto e desmistificar algumas crenças.
Mesmo com o elevado percentual de recusas no ano passado, 2017 apresenta o mesmo quadro ou algo mudou?
Sim. Em 2016 tivemos seis transplantes de rins e dois de coração, além de 82 transplantes de córnea, chegando a 90 transplantes. Este ano, de janeiro a julho, nós já temos mais um total mais expressivo, com 60 transplantes de córnea, 2 de coração, em março e 10 transplantes de rins, totalizando 83 transplantes. É uma melhora, estamos muito aquém, mas temos expectativa de aumentar.
Quais as barreiras que ainda impedem a doação e o que a Central de Transplantes faz para contornar o problema?
Vários são os motivos de recusa. Uma delas é o desconhecimento sobre o tema. Elas não sabem como podem ser um doador. Não adianta a pessoa que quer doar um órgão deixar escrito em algum lugar, pois quem autoriza após a morte é a família. Então, o desconhecimento de como ser um doador é uma causa importante. Outro fator é o religioso, pois alguns colocam isso como barreira. Não que as religiões sejam empecilho, mas algumas ainda levam em conta isso para tomar suas decisões. Mas o que pesa mesmo é o desconhecimento sobre o desejo do outro em ser doador. Recentemente li uma pesquisa na Espanha, onde 93% dos familiares que sabiam do desejo do ente que faleceu em doar aceitaram a doação. Em contrapartida, outras 57% que não sabiam disso acabaram negando. Então, além de falarmos para nossos familiares, também temos que tentar sensibilizar outras pessoas para essa causa. Por isso, também trabalhamos com os profissionais, porque na chamada morte encefálica a notificação é compulsória. Então, quem trabalha nas UTIs, eles também têm que notificar a Central de Transplantes, pois embora isso não evolua para uma doação, a família tem que saber e conhecer o diagnóstico fechado.
Então primeiro a família é informada pelo médico, mas como vocês também foram avisados, somente aí a Central vai buscar contato com a família?
Exatamente. O Conselho Federal de Medicina, por meio da Resolução 1480, estipulou como que se faz o diagnóstico de morte encefálica [morte cerebral]. É algo muito sério. Ele é feito por dois médicos, um deles neurologista, e aí, dando positivo, há um intervalo de 6h para repetir todos os outros exames e depois mais um, chamado eletro-encefalograma ou doppler, para poder comprovar que não há atividade elétrica. Então, fechado esse protocolo, a família é entrevistada sobre aceitar doar ou não aqueles órgãos.
A doação só ocorre após morte no ambiente hospitalar ou também quando alguém morre antes de dar entrada no hospital?
Há duas formas para ocorrer a doação. No caso da pessoa morrer antes de chegar ao hospital, aí se chama doação com coração parado. Neste caso, se pode doar as córneas. Então, há até 6h para que sejam retiradas ou captadas para o transplante. Outra forma é se o paciente sofreu o acidente com traumatismo craniano e chegou ao hospital com vida, existe a possibilidade de se tiver morte encefálica, há a possibilidade de doação de múltiplos órgãos. Isto porque uma vez tendo o diagnóstico da morte cerebral, as máquinas continuam mantendo os órgãos em funcionamento até que haja a possibilidade de conversar com a família e evitar a degeneração. É importante falar que, do paciente com morte encefálica, os equipamentos também podem ser desligados, a Resolução 1826 do CFM fala sobre isso, pois não há por que manter alguém que está clinicamente morto com equipamentos ligados.
Fonte: Gazeta Web
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