SAÚDE E ESPIRITUALIDADE / Victor Oliveira
Raimon Panikkar foi um químico, filósofo e teólogo que viveu de 1918 a 2010. Natural da Espanha, tornou-se muito conhecido pelos esforços que empreendeu para a relação e o diálogo inter-religioso. É dele a célebre frase: “Parti cristão, me descobri hindu e retornei budista, sem jamais ter deixado de ser cristão”, o que representa a capacidade que tinha de se relacionar com as diferentes expressões religiosas e com elas estreitar laços de diálogo bem como de sensibilidade, afeto e convivência.
Vale destacar que a relação e o diálogo inter-religioso a que fazemos referência não se trata de ecumenismo (que é um tipo de encontro promovido entre religiosos de matriz cristã), mas do encontro entre as diversas religiões que existem no mundo, independente de suas matrizes, a fim de promover a convivência por meio da comunhão e do respeito à pluralidade religiosa. Esse respeito é também uma forma de reverência profunda à alteridade de cada uma das religiões, ou seja, ao que é do outro e o distingue dos demais, porque tudo que se apresenta no mundo guarda a sua característica própria, a sua singularidade.
A decisão por se relacionar e dialogar inter-religiosamente não foi algo que se deu em Panikkar por simpatia ou beneficência, mas por conversão à alteridade que permite enxergar a manifestação do divino por entre os caminhos espirituais da existência, promovendo a fé como elemento de abertura a outros horizontes, ao invés de ser tratada como categoria de um sistema fechado. A esse respeito, Panikkar nos deu uma importante lição sobre o princípio ético da convivência em um mundo de pluralidades e os seus esforços refletem a sabedoria e a maturidade de quem compreendeu que antes de sermos seres religiosos que se relacionam com Deus, somos seres humanos e nos relacionamos uns com os outros; e que ao invés das religiões serem fatores de discórdia e até de guerra, devem ser fatores de acordo e de paz.
Raimon Panikkar soube extrair a seiva da experiência cristã para além dos seus próprios ductos. Dito de outro modo, ele soube produzir uma dinâmica de relação a partir do Cristianismo para além dos muros de suas próprias igrejas, contribuindo para reforçar o sentido abrangente da eclesialidade cristã que significa um povo que se reúne, a saber, um povo no sentido amplo do termo. Essa eclesialidade pode ser entendida tal qual um nó de relações comunitárias voltado para todas as direções e que o essencial do movimento cristão não se constitui por experiências individualistas, sectárias ou de partes, mas coletivas, de comunhão e de totalidade.
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