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As águas termais da Islândia -e especialmente a Lagoa Azul - são o principal cartão postal do país e recebem milhares de turistas todos os anos - e os números devem continuar crescendo. Com uma população de pouco mais de 330 mil habitantes, as cidades islandesas receberam mais de 1,7 milhão de turistas somente no ano passado.
O boom do turismo surpreendeu e provocou mudanças internas no país, que já foi considerada uma nação isolada.
Tudo começou logo depois da crise financeira de 2008, quando o valor da coroa - a moeda nacional - caiu extraordinariamente. Como parte do programa de recuperação, a Islândia empregou grandes esforços para atrair turistas e movimentar a economia.
Mas o resultado impressionou até mesmo aqueles que foram contratados para tentar vender o país no exterior.
"Não imagino que ninguém tenha imaginado isso", diz Hlin Palsdottir, da Promove Islândia, uma agência de relações públicas para o país.
Mas o que causou esse interesse tão grande - e repentino - dos turistas?
Reflexo do mundo
De muitas maneiras, a Islândia reflete as mudanças que estão ocorrendo no mundo todo: o fortalecimento das indústrias de serviços como o turismo - que representa um em cada 11 postos de trabalho no planeta - e também as flutuações nas economias nacionais.
O aumento no número de turistas também se deve ao maior conhecimento que as pessoas adquiriram sobre a Islândia.
A crise financeira, que quebrou vários bancos e colocou o país em um processo de agitação política, gerou muitas manchetes na mídia internacional.
Além disso, a erupção do vulcão Eyjafjalla, em 2010, que provocou a suspensão temporária de muitos voos também colocou o país no foco das atenções.
Para consolidar a presença internacional, no ano passado a seleção de futebol da Islândia ganhou fãs no mundo todo depois da classificação para as quartas de final da Liga Europeia.
E um dos principais fatores desse aumento também se deve ao crescimento da disponibilidade de voos com preços baratos saindo dos Estados Unidos e da Europa - o número de passageiros que transitaram no aeroporto internacional da ilha cresceu 40% somente em 2016, passando de cinco para quase 7 milhões.
Nesse sentido, também foi determinante a parada gratuita que a companhia aérea Islandair oferece aos viajantes que cruzam o Atlântico.
"As pessoas estão dividindo suas viagens para poder passar algumas noites na Islândia. O país fez um bom trabalho vendendo esse produto no mercado", afirma David Goodger, analista da consultoria Oxford Economics.
Impacto monetário
O impacto que o gasto dos turistas teve no país é evidente, especialmente na capital, Reikiavik.
Em todas as partes da cidade é possível observar obras e ações para acomodar os turistas. A rede hoteleira Marriot prevê a abertura de um hotel cinco estrelas para 2018.
No aeroporto de Keflavik uma placa em um canteiro de obras avisa aos viajantes que o local terá uma ampliação de 7 mil metros quadrados. Até a Lagoa Azul vai aumentar de tamanho.
Em 2014, o país lançou um novo passeio no qual os turistas são levados a uma geleira remota, onde podem caminhar através do maior túnel de gelo artificial do mundo. No segundo ano de atividade, o tour atraiu 22 mil turistas - 50% a mais do que o esperado.
Essa cifra revela ainda outra interpretação: todo esse volume de gente precisa de lugares para comer e, por isso, um dos grandes desafios da indústria alimentícia do país é crescer suficientemente rápido para atender a crescente demanda.
Esta meta não é fácil de ser atingida na Islândia, onde grande parte da comida é importada. A queda acentuada no valor da coroa em 2008 fez a importação de alimentos se tornar quase proibitiva.
Uma das consequências disso foi o fechamento das três lanchonetes McDonald's no país. O responsável pela franquia afirmou que o custo de importar ingredientes simplesmente havia se tornado muito alto. No entanto, até o fechamento desta franquia se tornou uma atração turística. Em um hotel na capital é exibido o último hambúrguer com fritas que foi vendido no dia 30 outubro de 2009 na Islândia. E tem mais: para aqueles impossibilitados de visitar o país, há uma transmissão ao vivo via webcam para ver o hambúrguer ainda bem preservado.
Por outro lado, a redução das importações fez com que a população começasse a produzir na própria ilha frutas e verduras em estufas aquecidas com energia geotérmica.
Ameaças à vista
Apesar das cifras, nem todo mundo está tão animado.
Uma moradora de Reikiavik, por exemplo, manifestou preocupação de que a a capital de repente fique parecida com uma das grandes cidades europeias, com a proliferação de hotéis com arquitetura padronizada de aço e vidro.
O aumento na demanda por hospedagem também pode gerar problemas aos residentes. Para se ter uma ideia, o governo tomou medidas para restringir a disponibilidade de quartos do Airbnb com o temor de que o aumento nos preços de moradia deslocasse os atuais moradores das áreas centrais da cidade.
Outra preocupação surge do possível impacto da presença de tantos visitantes na preservação do meio ambiente do país. Nesse sentido, Salome Hallfredsdottir, da Associação de Meio Ambiente, demonstra preocupação pelas áreas montanhosas mais altas, classificadas por ela como "a única região selvagem que ainda se encontra intacta em toda a Europa".
Nesse sentido, há no país um intenso debate sobre a aprovação de uma legislação que declare estas como áreas protegidas.
Além disso, o governo está promovendo a adoção de monitores que mantenham os visitantes dentro das rotas oficiais e trabalhem na prevenção de atitudes negligentes nos parques.
Mas, até agora, não se realizou nenhuma ação se para se financiar a expansão das instalações e a contratação de pessoal para trabalhar nas atrações naturais do país.
De toda forma, a avalição dos promotores do crescimento desta nova indústria no país é positiva.
"No final, todos vão se beneficiar com melhores estradas e rodovias", disse Palsdottir.
Uma bolha?
Ao se analisar essas expectativas de progresso, não é difícil se perguntar: será que o crescimento do turismo na Islândia é apenas uma bolha?
O setor cresceu ao ponto de competir com a indústria da pesca, uma das maiores do país, responsável por 5% e 6% do PIB (quase o dobro do que alcança a maioria dos países na Europa). No entanto, as oscilações do valor da moeda nacional continuam a ser um risco.
A recente baixa no valor da libra esterlina e do dólar nos Estados Unidos tem um impacto negativo na capacidade de gasto de dois importantes grupos de turistas no país: os britânicos e os americanos.
"Nosso modelo evidencia uma clara a relação entre o comportamento da moeda e o desempenho do turismo", diz David Goodger, da consultoria britânica Oxford Economics.
Em outas palavras, a bonança turística da Islândia poderá acabar caso os preços continuem subindo em relação a outros países.
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