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SAÚDE E ESPIRITUALIDADE / Victor Oliveira

Quem é Victor Oliveira? Victor Fellipe Silva de Oliveira, nascido em Palmeira dos Índios/AL, filho de Jorge Tenório de Oliveira e Tânia Maria Silva de Oliveira, é professor, teólogo e enfermeiro. Escreve artigos de opinião especialmente sobre Saúde e Espiritualidade para o F5 AL
23/12/2023 23:56:45
Uma reflexão sobre o natal
Há muitos presépios mundo afora, quem os enxerga?

O dia em que comemoramos o natal chega todo ano, mas espero que não seja o Papai Noel a bater nas portas das vossas casas e escolher do seu saco, vazio de humanidade, alguma das ilusões produzidas por uma sociedade desumana na qual somos conduzidos pelas vielas dos empobrecidos, de gente condenada a morrer antes do tempo, mas que até a morte trabalha intensamente para encher de devaneios um mundo dividido em classes em que uma impera sobre a outra. Com o "bom velhinho", nos afastamos do sentido essencial do natal que começa a se localizar há muito, muito tempo, em terras periféricas, sem luzes e enfeites.


Foi nestas terras onde um menino, filho de uma mãe solteira e de um pai adotivo, nasceu para revelar por onde a transformação do mundo humano deve começar: pelos despossuídos de ceias fartas, de vestes que cobrem o corpo, de pés descalços que andam sob a escuridão passando pelos pedregulhos sociais porque enquanto lhes falta o que é útil para a existência, sobra-lhes o preconceito, as perseguições, a tortura, a miséria e as periferias incompatíveis com os grandes centros repletos das ganâncias mais extravagantes.


A história e a teologia se encontram para nos ajudar a compreender que em um menino pobre o divino se apresentou. Isso mesmo! Deus se fez um ser humano, se fez um de nós e habitou por meio da carne humana o mundo dos homens e das mulheres, escolhendo a situação mais surpreendente para se revelar e confundir os que desejariam contar uma história mais encantadora e coberta da realeza absolutista, própria de uma sociedade que se enriquece empobrecendo.


Nas terras do antigo mediterrâneo nasceu o Emanuel, o "Deus conosco" (é este o significado do nome). Jesus veio ao mundo imigrante e refugiado porque estava em um território que não era o mesmo dos seus pais e porque estes haviam se deslocado de suas terras de origem por causa de ameaças. Em uma manjedoura, sobre um cocho que servia para alimentar os animais de uma estalagem, Jesus foi colocado depois do parto, após sua mãe (Maria) enfrentar as dores que se transformaram em alegria porque fez alguém vir ao mundo, diante dos olhos atentos de um homem (José) que, ainda confuso pelo ocorrido, já emprestava a Jesus uma paternidade que lhe serviria como suas primeiras referências, assim como a maternidade de sua mãe o serviu.


Em Nazaré, num vilarejo esquecido do mapa, o menino Jesus cresce sentindo e sofrendo as dores do seu tempo, os dissabores de uma vida marcada pela exploração de um regime totalitário com a prepotência própria de uma arrogância que se sustenta nos deuses criados pela crueldade do imaginário romano. Ainda jovem, Jesus manteve suas raízes, acolheu a sua cultura, se dedicou aos ensinamentos que o edificaram. Adulto e missionário, passou ao largo das grandes cidades que se desenvolve subdesenvolvendo o seu entorno. Aquele a quem chamaram “Messias” não alimentou anseios pelos tronos nem desejou ser um dos poderosos do seu tempo. Ao contrário, serviu-se das experiências duras da vida, trabalhou para manter o sustento que garantiria o seu percurso pela existência a fim de apresentar uma proposta distinta daquela que afligia o povo que constituía.


O Deus que se apresentou em um menino pobre, nascido numa manjedoura, continua a se apresentar e a oferecer ao ser humano um mundo de justiça, partilha de bens, amor e paz que deve ser construído no presente da história. Com o menino Jesus nasce também o Reino de Deus. Aí está a importância do natal, hoje reduzido ao calendário e coberto por ilusões e ritualismos que nos afastam do nascimento de um menino que revela a proposta do Reino de Deus. Uma vez compreendida e aceita, esta proposta nos ajudará a tornar plena a existência a partir da transformação do mundo em um lugar melhor para todos.


Diferente das versões mais elegantes e enfeitadas que nos contaram a respeito do nascimento de Jesus, a que se aproxima da realidade do nazareno possui em sua essência uma subversão que deve ser reconhecida, não para fragilizar as nossas crenças, mas para admitirmos uma proposta de transformação urgente, a começar por cada um e cada uma de nós.

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Victor Oliveira