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SAÚDE E ESPIRITUALIDADE / Victor Oliveira

Quem é Victor Oliveira? Victor Fellipe Silva de Oliveira, nascido em Palmeira dos Índios/AL, filho de Jorge Tenório de Oliveira e Tânia Maria Silva de Oliveira, é professor, teólogo e enfermeiro. Escreve artigos de opinião especialmente sobre Saúde e Espiritualidade para o F5 AL
07/04/2023 10:19:52
A atualidade da paixão de Jesus Cristo: descer da cruz os que sofrem
Paixão de Jesus Cristo / José Luis Castrillo de Guzmán

Já diria um religioso brasileiro que Jesus não morreu de causas naturais pela extensão da idade nem por causa de uma doença severa nem de desastre de camelo em uma das esquinas de Jerusalém. Vale dizer também, na contramão das interpretações teológicas mais tradicionais, que Jesus também não morreu simplesmente porque Deus quis que ele morresse para fazer disto um sacrifício de reparação para a humanidade.


É verdade que existe uma elaboração teológica da morte de Jesus como um sacrifício. É verdade também que essa teologia que define a morte de Jesus como um sacrifício do Deus por ele revelado tem exercido ao longo do tempo uma função religiosa e social na história, isto é, tem influenciado a vida das pessoas que crêem e desenvolvem sua fé no nazareno. Contudo, ainda que tal elaboração teológica silencie alguns fatos históricos ou abrande as ocorrências do passado, ela não consegue apagar definitivamente o que de fato ocorreu.


A morte de Jesus foi um crime. Jesus morreu porque foi assassinado depois de ter sido caluniado, perseguido, preso, sentenciado, condenado, torturado e, enfim, crucificado. A cruz na qual dependuraram Jesus era o pior castigo para um indivíduo daquele tempo. Iam para a cruz os bandidos e subversivos contra a ordem imperial, e foi como um bandido e subversivo que Jesus foi morto pelos dois principais impérios do seu tempo: o romano e o religioso. Em alguma medida, o império religioso participa do processo que levou Jesus à cruz, haja vista que os religiosos do tempo dele foram confrontados e contra ele travaram diversos conflitos. Todavia, Jesus não era uma ameaça apenas para os religiosos do seu tempo, mas para o império romano e foi este que exerceu o poder de crucificá-lo.


Faço das palavras de um famoso pensador cristão as minhas: o apelo à morte e à cruz pode ocultar a iniquidade das práticas daqueles que precisamente provocam a cruz e a morte dos outros. Este apelo nada mais é do que vulgar ideologia que propicia ao sofrimento e à morte prosseguirem sua obra avassaladora em termos de exploração, relações injustas entre pessoas e classes, privilégios e dominação.


A morte de Jesus não deve ser relacionada ao querer do Deus por ele revelado porque o Abba, isto é, o “paizinho” de Jesus não é Moloch, “o príncipe do vale de lágrimas”, “o semeador de pragas”, a divindade adorada por culturas antigas e que exigia sacrifícios humanos. O Deus-Pai de Jesus é o Deus da vida, da vida plena e abundante para todos e todas. O Deus-Pai de Jesus não quer o sofrimento dos homens e mulheres que são espoliados diariamente, perseguidos, caluniados, torturados, crucificados, ou seja, condenados a morrerem antes do tempo.


O Deus-Pai de Jesus Cristo não é aquele que impõe a cruz aos outros, mas O que os retira da cruz e os glorifica por meio da ressurreição e da eternidade quando a vida se transfigura e assume a sua totalidade derradeira.


A paixão de Jesus Cristo não consiste em resignar os que crêem para aceitar o mal que lhes é imposto como sendo da vontade de Deus. A paixão de Jesus Cristo consiste na denúncia das estruturas e dos aparelhos que impõem o sofrimento e a morte aos homens e mulheres. A paixão de Jesus Cristo não consiste na contemplação do sofrimento, nem o de si nem o dos outros, mas nos impulsiona a superá-lo. Ao permitir que olhemos para o seu sofrimento, Jesus Cristo nos sensibiliza a reconhecer o sofrimento dos outros (e como são muitos os que sofrem!). A empatia que sentimos pelos que sofrem é reflexo da intimidade que mantemos com Jesus e Deus-Pai porque ambos estão nos que sofrem, jamais nos que impõem o sofrimento; ambos estão nos torturados, jamais nos torturadores; ambos estão nos crucificados, jamais nos crucificadores.


Porque a paixão de Jesus Cristo é, sobretudo, a paixão pelos que sofrem. E são estes que precisam ser retirados da cruz.

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Victor Oliveira